segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Cartas para Alícia - II

Na carta anterior, eu pedi que você não culpasse seu pai, quando tivesse capacidade de compreender o que aconteceu; e hoje, conversando com uma mãe, acabei me dando conta de que não posso contar com isso, porque vai acontecer. Você vai acusá-lo, ainda que ouça os motivos, saiba o que de fato há por trás de tudo; especialmente se algo não ocorrer conforme a regra geral, sei que muitas lágrimas rolarão, e que o seu coração, sangrando, há de bradar algo do tipo "mas você é que é o meu pai, e só você poderia ter feito, e não fez!".

Quero que saiba que, enquanto escrevo essas linhas, rogo a Deus para que a proteja de tudo e de todos, para que haja alegria e contentamento nos seus dias longe de todos nós. E que, quando for chegada a hora, você leia cada palavra dessa e possa sentir a verdade do que já foi dito.

Toda hora que abro a porta do seu quarto, lá no nosso apartamento, e vejo tudo o que preparamos para você, sinto um nó na garganta; quando penso nas coisas que você não vai vivenciar, nos vínculos que serão afrouxados ou desfeitos, em tudo aquilo que temos construído juntos - seu pai, eu e você - questiono onde foi que erramos, o que deixamos passar que acabou resultando nisso... aí ouço sua voz dizendo "eu não quero ir embora, tia Tati, não quero deixar os meus amiguinhos da escola", e isso reverbera noite e dia na minha cabeça.

Como advogada, sei que, acima de qualquer convenção social, qualquer motivo fútil, egoísta, revanchista, deveria ser colocado de lado em prol da manutenção do domicílio que melhor atenda às suas necessidades físicas, psicológicas, emocionais, além dos vínculos familiares e escolares com os quais você cresceu e viveu até hoje. Como sua tia, como esposa do seu pai, como ser humano, mas acima de tudo, como mulher, sei quais as consequências futuras dessa ruptura brusca, ainda mais no tocante à relação de filha e pai.

Um dia, você saberá que a forma como vai se relacionar com o gênero oposto perpassa pela relação havida com o pai; enquanto muitas mulheres, hoje, buscam nos parceiros suprir a ausência da figura do pai, você, futuramente, vai se aperceber que fora usurpada da possibilidade de ter estabilidade nessa seara, e com isso, há uma chance gigantesca de que você faça escolhas equivocadas, e sofra.

Mas ainda há uma chance. Eu tenho esperança de que, quando você vier a ler essa  e as demais cartas, possamos rir de tudo isso, lá na sala do nosso apartamento. Ou no seu quarto. 

sábado, 27 de dezembro de 2014

Cartas para Alícia - I

Dos seus cinco aniversários, acompanhei três. Sei que é estranho e confuso ganhar uma festa duas semanas antes da data do seu nascimento, e pior ainda, perder o referencial de celebração no ano; mas isso é coisa de adulto, um dia você vai compreender, e talvez possa me explicar.

Eu sei que você está triste, e mesmo sendo tão pequena, já se deu conta de que nem sempre o seu desejo - por mais legítimo que seja - será atendido, porque há interesses que perpassam a preservação do seu bem-estar físico, mental e emocional. Só quero que você saiba que eu tentei, porque Deus já sabe, mas você não. Um dia, quando chegar a hora, contarei.

Você se lembra daquele dia em que fomos ver o apartamento? Pois é, eu não esqueço, e meus olhos marejam cada vez que penso em quantos planos você fez para o seu quarto... eu prometo que, muito em breve, ele estará lindo e arrumadinho do jeito que você sonhou, inclusive com um tapetinho ao lado da cama, para que a Charlotte possa dormir lá, como você quer.

Quero dizer, ainda, que somos uma família, e sei que você sente e sabe que é real, sempre foi; mesmo antes de termos o nosso apartamento, como você diz. O vínculo que há entre nós - seu pai, você e eu - não pode e não vai ser dissolvido, ainda que esse seja um propósito de vida para alguns. A despeito de muitos me dizerem que eu deveria ter filhos, penso que, se seu pai e eu podemos trabalhar mais e mais, e assim proporcionar a você oportunidades melhores, isso deve ser a nossa prioridade. Conosco, nada será dividido; nem possibilidades, nem afeto, nem atenção, nada. 

Ah! Dia desses, seu pai e eu fomos assistir a um filme, e uma fala calou fundo em mim... na cena, o pai vela o sono do rebento, e diz que aquele repouso é sereno porque ele sabe o quanto é amado. Talvez seja por isso que, ao nosso lado, os cochilos da tarde ou as noites sejam assim, abençoados pelo amor que nutrimos por você. 

Sinto muito, muito mesmo, não poder reivindicar a sua permanência, a manutenção da realidade na qual você cresceu, seus laços afetivos, sua escola, seus amigos, suas referências, tudo aquilo com o que você se acostumou. Perdoe a minha limitação, e compreenda os motivos do seu pai. Sou testemunha: ele tentou. Não usou todas as armas disponíveis, mas as que foram permitidas; se você tiver de julgar alguém no futuro, que não sejamos nós dois. 

...enquanto escrevo essas palavras, penso nas diversas vezes em que você disse que não quer ir embora. E choro. Mas preciso ser forte, porque com a sua partida, você vai levar consigo a alegria de viver do seu pai, e ninguém se preocupa com o que ele sente, também. Mas foi nos meus braços que ele desmoronou, deixou-se tomar pela dor, pelo desespero, pela impotência, pela decepção da falta de apoio. Sinto muito por você, novamente, já que eu sei o quão importante é a figura do pai para o desenvolvimento emocional de uma menina. 

Que desespero é pensar em ver você pedindo para não ir embora! Cada vez que você diz isso, eu morro um pouco... e peço a Deus que, pelo menos Ele, ouça a suas súplicas! 

"De que serve ter o mapa
Se o fim está traçado
De que serve a terra à vista
Se o barco está parado
De que serve ter a chave
Se a porta está aberta
De que servem as palavras
Se a casa está deserta?"
(Quem me leva meus fantasmas - Pedro Abrunhosa)

Aqui, na voz de Maria Bethânia.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

"Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta"

Carta de Amor
Maria Bethânia


Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só

Eu tenho Zumbi,Besouro, o chefe dos tupis
Sou Tupinambá, tenho os erês, caboclo boiadeiro
Mãos de cura, morubichabas, cocares, arco-íris
Zarabatanas, curare, flechas e altares

À velocidade da luz, no escuro da mata escura
O breu, o silêncio, a espera
Eu tenho Jesus, Maria e José
Todos os pajés em minha companhia
O menino Deus brinca e dorme nos meus sonhos
O poeta me contou

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, eu não ando só

Não misturo, não me dobro
A rainha do mar anda de mãos dadas comigo
Me ensina o baile das ondas e canta, canta, canta pra mim
É do ouro de Oxum que é feita a armadura que guarda meu corpo
Garante meu sangue, minha garganta
O veneno do mal não acha passagem
E em meu coração, Maria acende sua luz e me aponta o caminho

Me sumo no vento, cavalgo no raio de Iansã
Giro o mundo, viro, reviro
Tô no recôncavo, tô em fez
Voo entre as estrelas, brinco de ser uma
Traço o cruzeiro do sul com a tocha da fogueira de João menino
Rezo com as três Marias, vou além
Me recolho no esplendor das nebulosas, descanso nos vales, montanhas
Durmo na forja de Ogum, mergulho no calor da lava dos vulcões
Corpo vivo de Xangô

Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva

É por onde eu vou que o santo me leva

Não ando no breu, nem ando na treva
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
É por onde eu vou que o santo me leva

Medo não me alcança
No deserto me acho, faço cobra morder o rabo, escorpião virar pirilampo
Meus pés recebem bálsamos, unguentos suaves das mãos de Maria
Irmã de Marta e Lázaro, no oásis de Bethânia
Pessoa que eu ando só, atente ao tempo
Não começa, nem termina, é nunca, é sempre
É tempo de reparar na balança de nobre cobre que o rei equilibra
Fulmina o injusto, deixa nua a justiça


Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão
E pra onde você for, não leva o meu nome não

E pra onde você for, não leva o meu nome não

Eu não provo do teu fel, eu não piso no teu chão
E pra onde você for, não leva o meu nome não
E pra onde você for, não leva o meu nome não

Onde vai, valente?
Você secou, seus olhos insones secaram
Não veem brotar a relva que cresce livre e verde longe da tua cegueira
Seus ouvidos se fecharam a qualquer música, a qualquer som
Nem o bem, nem o mal pensam em ti, ninguém te escolhe


Você pisa na terra, mas não a sente, apenas pisa
Apenas vaga sobre o planeta, e já nem ouve as teclas do teu piano
Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona, não tem alma
Você é o oco, do oco, do oco, do sem fim do mundo


O que é teu já tá guardado
Não sou eu quem vou lhe dar

Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar


O que é teu já tá guardado
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar
Não sou eu quem vou lhe dar

Eu posso engolir você, só pra cuspir depois
Minha fome é matéria que você não alcança
Desde o leite do peito de minha mãe
Até o sem fim dos versos, versos, versos
Que brotam do poeta em toda poesia
Sob a luz da lua que deita na palma da inspiração de Caymmi

Se choro, quando choro, e minha lágrima cai
É pra regar o capim que alimenta a vida
Chorando eu refaço as nascentes que você secou
Se desejo, o meu desejo faz subir marés de sal e sortilégio
Vivo de cara pra o vento na chuva, e quero me molhar
O terço de Fátima e o cordão de Gandhi cruzam o meu peito
Sou como a haste fina, que qualquer brisa verga, mas nenhuma espada corta

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Não mexe não!

Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

A minha cartinha para o Noel

Fortaleza, 24 de dezembro de 2014.

Imagem daqui
Querido Papai Noel,

eu sei que há muito, muito tempo, eu não sento para escrever uma cartinha endereçada ao senhor; quer dizer, para falar a verdade, não tenho escrito cartas propriamente ditas há anos, rs. Bom, mas isso não vem ao caso... 

O fato é que 2014 foi um ano de aprendizado, e quando uso esse termo para definir, em verdade quero dizer que houve dor e lágrimas... mas talvez seja somente assim que a gente consiga aprender a se levantar: caindo, sacodindo a poeira e colocando óculos escuros para disfarçar. Ainda bem que mandei fazer um par lindo ;)

Ah, sim, voltando ao propósito da carta... bem, eu queria agradecer por ter a oportunidade de, pela primeira vez em 33 anos, poder dizer que estou em casa, sem que isso se refira à casa da minha mãe. Não, eu não estou sendo ingrata, tampouco cuspindo no prato; é que, finalmente, eu sou a dona da casa. Obviamente, o pré-marido é o dono da casa, especialmente do fogão e das panelas. Espero que, muito em breve, eu seja a comandante da máquina de lavar roupas. Sim, porque eu descobri que sou boa nessa história de lavar a minha roupa e a dele... e fazer faxina também. Quem diria, né?

Olha só, na segunda-feira, quando todos foram embora, eu e ele nos olhamos, fechamos a porta e suspiramos. A sensação de que estamos construindo o nosso lar não tem preço, não comporta explicações! 

Eu sei que vou ser abusada, mas ainda há dois desejos que eu gostaria de realizar antes que as luzes de 2014 se apaguem... por favor, se o senhor puder, dê uma forcinha tá? A causa é nobre!

Obrigada, muito obrigada pelos presentes de Natal - materiais e energéticos, sentimentais e afins <3 p="">

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

"Não me falta casa, só falta ela ser um lar"

Há algo mais corriqueiro, mais "feijão-com-arroz", do que dizer "lá em casa"? Pois é, desde que passamos a nos entender como gente, nada mais simplório do que se referir à casa da família dessa forma.

Entretanto, usar essa expressão para se referir ao lar objeto de sua livre escolha, fruto do seu esforço, seja a qualquer título (união estável, casamento, ou mesmo as maravilhas de morar sozinho), ganha ares diferenciados. 

Sim, é verdade, é libertador saber que se eu deixar o copo sujo na pia, ele ai ficar lá até que eu resolva lavá-lo. Ou se eu deixar o shampoo mais top-top na prateleira do banheiro, ele estará a salvo do uso indiscriminado por terceiros. 

[aqui, cabe um esclarecimento: João tem o próprio shampoo, nunca usou qualquer dos meus. Alícia idem.]

As pessoas mais próximas sabem o quanto sofri, ao longo desses 33 anos, com a invasão do meu espaço, com a bagunça alheia, enfim, com [quase] tudo que decorre da convivência. Há algum tempo, a despeito de custear despesas decorrentes da coabitação, vez por outra eu era obrigada a ouvir um sonoro "a casa é minha", ainda que, no instante seguinte, ao sabor da necessidade, a mesma boca dissesse "mas a casa é nossa". 

O fato é que ser filho ou irmão tem prazo de validade, em termos de dividir o mesmo espaço. Obviamente, não estou a dizer que João e eu somos absolutamente iguais, porque seria uma inverdade: eu sou obcecada por limpeza, amo organização, e ultimamente pouca coisa me faz mais feliz do que sentir o cheiro da roupa limpinha, que eu mesma lavei. Já o João é todo caprichoso com as nossas refeições, e ainda lava a louça, mas não é lá uma referência em termos de organização. 

Assim como ele não consegue entender as razões pelas quais eu me armei de balde, vassoura, rodo e produtos de limpeza, e fui lavar o apartamento inteirinho, sozinha, eu não consigo entender como ele junta tanto papel dobrado na mochila, no carro, e em qualquer lugar. Mas mesmo assim, a gente se respeita e se aceita, com defeitos e tudo mais. 

E graças à generosidade de pessoas queridas, a partir de hoje, 22 de dezembro de 2014, o termo lá em casa vai se referir a outro CEP, meu e do João. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Preciso estar errada!

Nunca pensei que diria isso, mas o fato é que torço para, pelo menos nesse ponto específico, estar completamente equivocada.

Enquanto de um lado eu "vejo" a terapeuta argumentando, do outro uma grande parte das pessoas (talvez a maior) refuta tudo, ignorando os sinais, as placas, os avisos, enfim...

Sinto como se estivesse sendo asfixiada lenta e dolorosamente, mantendo a consciência plena do que se passa ao redor, porém não há como reagir. Entre o desespero de saber o que vai acontecer, e tentar lutar para não ser "abatida", as forças vão se esvaindo.

Chega. Preciso admitir que há condições contra as quais nada posso fazer ou dizer. Ou são todos peixes, e justamente por isso ignoram o ambiente (a água), provocando movimentos e molhando quem está em terra firme; ou sou esquizofrênica.

Bom, não ando por aí rasgando dinheiro, mas ao contrário, dadas as circunstâncias, estou "correndo atrás" de fontes alternativas dentro da minha formação. A terapeuta, por sua vez, tem um posicionamento alinhado com o meu...

Oremos, Oremos. Só a oração, nesse caso, há de libertar e consolar.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

"Faça o que eu digo", ou "faça o que eu faço"?

Hoje, buscando frases que serão dispostas em cartazes, no teto do corredor que dá acesso ao salão onde será realizado o evento da empresa, deparei-me com uma que fez tanto, mas tanto sentido, que resolvi compartilhar:

"Fácil é ditar regras. Difícil é segui-las." 
Carlos Drummond de Andrade

Imediatamente, lembrei o discurso de um conhecido, sobre a dificuldade de promover mudanças em si mesmo, para ser exemplo - no futuro - para o(s) filho(s). Ele, na casa dos 25 anos, já desenvolveu um nível de consciência acerca da verdadeira essência da educação: o exemplo. 

Diferentemente de criar cachorros, que não vão questionar a proibição de ingerir refrigerante quando flagrar você com um copo cheio de Coca-Cola, criar crianças é um exercício eterno e incansável de alteração de padrões de comportamento próprios, sob pena de perder a credibilidade. 

Sendo bem franca, estou convencida, ainda, de que ser figura com participação ativa na construção do caráter de alguém é, antes de mais nada, desconstruir a si mesmo - ainda que com dor e uma dose alta de dificuldade - na busca do aprimoramento como ser humano. 

Costumo ouvir que "ser mãe" ou "ser pai" é uma experiência ímpar. Ok, pode até ser para alguns; para outros tantos, engessados em si mesmos, mudança é uma palavra que não existe no dicionário. Porque hoje, mesmo optando conscientemente pela não-maternidade, porém tendo a oportunidade de ser parte ativa na vida de outrem, percebo uma mudança significativa, notória, sem sombra de dúvidas. Entretanto, a todo instante eu me deparo com situações que demandam um novo olhar, uma nova atitude. 

Sim, é demasiado confortável permanecer onde se está. Mas a pergunta que deve ser feita é: esse conforto é salutar, a ponto de não causar conflitos ou embaraços quando repetidos pela criança? Na posição que ocupo, a questão reside, muitas vezes, entre a autoproteção ou o bem estar do menor, com a ciência plena de que, não importa qual das escolhas eu faça, serei sempre mal interpretada. 

Quem convive mais de perto sabe o alto preço que eu pago, e o porquê. E não, não é altruísmo... passa ao largo disso. Enxergo mais como uma oportunidade celestial de me ressignificar, ter a consciência tranquila no futuro, e de alguma forma tentar evitar que as mesmas feridas que cauterizo em mim hoje, agindo assim, serão menores ou inexistentes nessa pessoa. Se vai ou não funcionar, o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: não haverá cobranças por omissão. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Bolo, conversas e o futuro da humanidade

Sexta passada foi dia de celebrar a vida de uma pessoa iluminada. Tão querida, que o esposo contatou pessoas próximas para um petit comité, mas que rendeu uma alternância de conversas descontraídas e profundas. 

Curioso como o assunto "criação" acaba sempre permeando as rodas de papo. Bom, provavelmente o fato de a aniversariante ser uma dedicada mãe de duas figuras lindas, contribua significativamente para a pauta.

O que acho mais bacana nisso tudo - e daí porque resolvi escrever um post sobre o tema - é que, mesmo não sendo tarefa fácil educar uma pessoinha [de pouca idade] cuja personalidade é bastante forte, a perseverança e a noção de responsabilidade são diferenciais. Lógico que a rotina gera um estresse, isso é inegável; mas como cada pessoa reage à exposição finda por definir, separar mesmo, os casos em que o sucesso da empreitada parece mais garantido, palpável. 

Quando se escolhe, por ação ou omissão, ter um filho, assume-se a tarefa de educar ser(es) humano(s), diuturnamente, de forma consciente e responsável, com aptidões de convivência em sociedade. Só que há um detalhe, ali nas entrelinhas, que pouca gente lê: a importância do exemplo. 

Só que nem todo mundo está disposto a comer legumes no almoço, abandonar o refrigerante, trocar a parafernália eletrônica por passeios ao ar livre, deitar para dormir antes da meia-noite, tratar com educação as pessoas que nos auxiliam (babás, domésticas, seguranças, etc.), usar cinto de segurança, não ultrapassar o sinal vermelho nem estacionar em local proibido. 

Mudar dá trabalho, sim, e muito. Porém, vale a pena!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Divagando em contos - XI

"Era para ser. Estava escrito. Ela havia entendido tudo, perfeitamente: o universo conspira para que as pedrinhas se [re]encontrem. Mas as linhas miúdas no rodapé desse 'contrato', não lidas, davam conta de que haveria muito sangue, suor e lágrimas, sem garantia de sucesso na empreitada.

Seu coração - esse trem desgovernado, cuja alavanca nem sempre funciona no primeiro acionamento - promovia interpretações aos borbotões, construindo e derrubando o castelinho de cartas, enfileirando pacientemente os dominós, que sucumbiam em sequência ao menor dos movimentos. 

Ilusão. Distinguir entre desespero de causa e 'cavalo selado' não é tarefa fácil, mas às vezes, a decisão passa ao largo de sua vontade. Mais uma vez, ela viu-se inundada de um velho sentimento, sentiu seu gosto amargar outra vez na boca. Sim, a memória é um álbum de recortes que não amarelam, não empoeiram, mesmo quando relegado a um canto qualquer de uma estante. 

A dor de querer e não obter, ela conhece bem, e não é de hoje; os discursos que soam como música tocada para fazer levitar, também não. Curioso, e não menos revoltante, era que ela insistia em desligar os alarmes que alertam para acontecimentos daquele tipo... quase como se tivesse sido treinada para sofrer. Sina.

Ela volta aos arquivos, à procura do contrato; relê todas as cláusulas, as entrelinhas, conjectura meios para aditar ou distratar. Mas as regras do jogo são imutáveis, baby. Aceite, assim dói menos. 

Daí o tom ameaçador do discurso converteu-se: passou de 'em breve' para 'um dia, talvez, quem sabe'. No fundo, algo dentro dela sussurra: 'nunca'. Entretanto, as experiências mostram que é preciso ser revirada do avesso, visto que, muitas vezes, é assim que se descobre que o avesso é o lado certo. 

Apatia. Ela chora, porque sabe que nem toda batalha merece que se desembainhe a espada; algumas estão fadadas ao fracasso, daí porque não se deve expor aos riscos desnecessariamente. E de joelhos, ela clama por uma solução. 

Põe-se em pé, de salto 15, e prossegue a caminhada, porque sabe que as soluções não tocam a campainha, tampouco ligam no celular."

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Comida japonesa, Física, e relações interpessoais

Era uma vez uma pessoa que nunca havia provado comida japonesa, e a despeito de haver ouvido todo tipo de absurdo com relação aos "contras", permitiu-se experimentar. Com receio, obviamente, porque tudo que é novo dá aquele friozinho na barriga.

Pois bem, superada a tentativa, a identificação foi total, de modo que rolou uma química esplêndida, e a pessoa é a-p-a-i-x-o-n-a-d-a por sushi e afins. 

Bom, mas eu queria falar de outra coisa... de relacionamentos interpessoais. Com algumas exceções, sou do tipo que permite uma "apresentação" prévia, antes de formar uma convicção acerca de quem vai ingressar no rol de convivência, ou de tolerância. Não preciso dizer [e já estou dizendo] que os reprovados dificilmente terão segunda chance, né? Sim, sou dessas.

Numa analogia paupérrima, é como se eu ouvisse e prestasse atenção em tudo que disseram sobre comida japonesa, e mesmo assim, ponderando, tenha julgado interessante e válido o ato de experimentar; eu me permiti provar, saca? Daí, caso não tivesse gostado, haveria chances na casa dos 90% de jamais voltar a manusear hashi

Fico impressionada com a falta de senso de gente a quem eu dei essa "chance", amplamente desperdiçada dezenas de milhares de vezes, e ainda sim "não sabe" o porquê de eu ser assim, esse "doce", no traquejo. É que eu não permito invasões ao meu espaço mais de uma vez; não sem consequências. Sabe o tio Newton, aquele que formulou três Leis? [facilitei sua vida, e coloquei o link da Wikipédia, para relembrar, tá? bjo!] Pois é, eu aplico, por analogia. Vamos lá:
Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em uma linha reta, a menos que seja forçado a mudar aquele estado por forças aplicadas sobre ele.

A mudança de movimento é proporcional à força motora imprimida, e é produzida na direção de linha reta na qual aquela força é imprimida.
A toda ação há sempre uma reação oposta e de igual intensidade: ou as ações mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos 

Eu costumo seguir a vida, quietinha no meu canto: se você não mexer comigo, não vou mexer com você. Mas não pule a cerca, não mostre o ossinho de galinha para o tigre enjaulado [perdão, mas dadas as últimas notícias veiculadas no noticiário, foi inevitável usar o caso de Cascavel/PR, para ilustrar o que estou dizendo], porque quando você vacilar, vou reagir. É instinto, simples assim. 

Que fique claro: não estou dizendo que necessariamente vou usar de violência ou força física, só que convém não se confiar nisso, porque meu sangue é quente. E o fato de eu não reagir, de imediato, não significa que vai ficar impune, porque não vai. Não mesmo. Meu outro defeito é estudar uma forma bem pedagógica de devolver a "gentileza". 

Admiro quem é como a minha mãe, que perdoa, esquece, e segue a vida. Vai viver 100 anos, se Deus quiser. Nesse ponto, a genética paterna fala mais alto, ainda que a terapia tenha fornecido umas ferramentas para frear os impulsos e manter o raciocínio lógico. Se o caldo ainda não entornou, dê graças a Deus, e evite a rota de colisão, daqui por diante. Prevenir sempre será um remédio adequado. 

Quanto à inclusão na lista-negra dos desafetos, posso considerar um pedido formal de desculpas. Pelo bem e alívio dos demais envolvidos.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O espetáculo e os bastidores da história

Quando ingressei nessa peça, os papéis principais já estavam definidos; só observava, de longe, guardando para mim as opiniões sobre a melhor entonação, a luz mais favorável, uma mudança aqui ou acolá no posicionamento, tudo para que transcorresse sem interrupções, e da forma mais adequada possível.

Até que, um dia, alguém pediu a minha opinião, e se interessou pelas anotações, resolveu se questionar o porquê disso ou daquilo. E gostou. E passou a perguntar mais e mais, a ouvir e prestar atenção. Ponderar. 

Imagem daqui
Quando me dei conta, nem era mais uma mera coadjuvante; estava "infiltrada" no roteiro, na contrarregra, na direção, na iluminação, na continuidade, enfim, trânsito livre nos bastidores. Mas ainda sim, consciente de que as decisões não cabiam a mim, nunca caberão. Entre a liberdade para fazer críticas, e a dificuldade de lidar com certas limitações, sigo a vida acreditando que sim, tenho contribuído, de alguma forma; útil, eu espero, rs. 

O espetáculo evolui, porque o público nem sempre é o mesmo, ou tem as mesmas reações. Aliás, tudo nessa vida encontra-se em constante mutação - uns evoluem, outros involuem - pois nada permanece congelado no tempo. O combustível, a recompensa, o objetivo, é sempre o aplauso; há dias de plateia de pé, efusiva, outros de parcos "clap, clap". 

Mas o show tem que continuar.


sábado, 19 de julho de 2014

Os primeiros dois anos do resto de nossas vidas

Se eu tivesse três desejos, hoje, certamente o principal deles seria o de que você, meu noivo/amigo/cúmplice/parceiro pudesse realizar o seu sonho, o quanto antes... mas isso está a encargo da sua bagagem, aliada à reunião de condições propícias... 

Nesses dois anos de convivência, pude perceber que somos muito diferentes, tivemos criações bem distintas. Ponto para nós! Nas diferentes formas de ver o mundo, compartilhamos pontos de vista, e crescemos. Juntos.

Quero que você jamais duvide que estou aqui, ao seu lado, para lhe dizer que sim, você é capaz. Não importa quem tenha dito o contrário, o quão reforçada essa ideia esteja na sua cabeça; você pode ser mais, e melhor, sempre.

Imagem daqui
O amadurecimento, em tese, significa reavaliar periodicamente as "certezas" com as quais nos deparamos, desde a infância. Se um dia, ou todo dia, alguém diz que você não foi/é/será um bom pai, eu estou/estarei aqui para dizer: faça diferente. É estupidez achar que os resultados serão outros, se você agir sempre da mesma forma. A relação que você vem construindo com a sua filha, ao longo dos últimos dois anos, é a prova de que sim, é possível ser como as ondas do mar: fazer de cada recuo um novo começo.

Imagem daqui
Se alguém disse a você, ou falou sobre você, acerca da "demora" na convocação/aprovação, eu estou/estarei aqui para dizer: persista! A vida é para quem não desiste na primeira topada... e que seja em Fortaleza, em Teresina, no Rio, ou nos cafundós do Judas, saiba: eu estarei ao seu lado.

Você, mais do que qualquer outra pessoa nesse mundo, sabe que é real, é palpável, e que não importa quanta interferência, quantas atitudes, quantos gestos tenhamos de suportar: nós resistiremos. Esse relacionamento dá certo porque a gente investe nele, porque a gente acredita nele. Não precisa ser muito esperto para ver, basta querer ver. 

[E agora, puxando a brasa para a minha sardinha] Basta uma olhadela para trás, para o que você viveu antes do dia 19 de julho de 2012; agora, olhe desta data em diante. Perceba que nem você, nem eu, somos mais as mesmas pessoas que estavam naquele carro, naquela noite do pedido de namoro. Eis a magia do amor: ele nos transforma no melhor que podemos ser. Quem ama dá asas para voar, e motivos para ficar... e eu sei que você tem ambos, assim como eu. E nós, dia após dia, pousamos no mesmo lugar por escolha própria.
Imagem daqui

Que venham muitos e muitos anos de aprendizado, cumplicidade, amor, incentivo, dúvidas e certezas... crescimento. Como eu disse noutro post, quando somos dois, somos um casal; quando somos três, somos uma família.

Feliz nosso dia 19 de julho de 2014.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Coisa de noiva

Quando está noiva, a gente...


  1. ouve uma música e já imagina em que momento da cerimônia ficaria perfeita;
  2. escolhe mil opções de vestidos pela internet, e vai "favoritando" tudo;
  3. acorda com aquela vontade de marcar a data, sem pensar muito no resto;
  4. vai salvando em todo lugar as maquiagens, os penteados, os acessórios;
  5. quer emagrecer, mas não faz muito [de verdade] para isso;
  6. se pergunta por que tudo parece inatingível;
  7. sofre pressão para marcar a data, escolher um local, fazer listas múltiplas;
  8. tem que aguentar pitacos inoportunos;
  9. precisa deixar claro quem é a noiva, e que cabe a ela as escolhas [juntamente com o noivo];
  10. chora com as cenas de pedidos de casamento, e cerimônias, de filmes, seriados e novelas;
  11. reza por um milagre financeiro;
  12. sonha com o dia em que vai sair de casa;
  13. troca as pesquisas de bolsas e sapatos, por eletrodomésticos e afins;
  14. passa a calcular as coisas em termos de "com esse dinheiro, eu compraria dois liquidificadores", rsrs;
  15. acompanha blogs e sites, redes sociais, tudo relativo a casamento;
  16. enlouquece amigas de tanto que fala de casamento;
  17. enche o saco do noivo, pelo mesmo motivo;
  18. anda por aí de olho nas placas de "aluga-se";
  19. [... continua]

domingo, 29 de junho de 2014

O dia em que fomos amputados, ano 2

Não importa quanto tempo passe, ou quantas pessoas entrem e saiam espontânea e descompromissadamente de nossas vidas; não importa o quanto sorrimos, a quantas celebrações comparecemos; não importa quantas estações tenhamos efetivamente...

Há sempre um lugar vazio à mesa, que corresponde a uma cicatriz em nossas almas, e um conjunto de experiências, doces e amargas. Essa ausência [física], com a qual cada um de nós desenvolveu uma intimidade, uma forma de lidar, é mais sentida nesse dia tão emblemático, no qual teve início e fim um ciclo de existência de 365 dias.

O tempo, capturado em fotos, delimitado em vídeos, segue congelado; ela segue sendo aquele bebê que não chegou a andar, não aprendeu a falar completamente, que jamais vai nos deixar em pânico por ameaças de encontro entre dedos e tomadas, ventiladores, objetos cortantes... igualmente, jamais nos permitirá emitir "owwwwn" a cada nova descoberta, a cada progresso, a cada conquista e independência.

Em nós, haverá sempre um berço vazio, um chocalho jogado num canto qualquer da sala, uma mamadeira por lavar sobre a pia. Restará sempre aquela sensação de que ela deveria estar ali para reclamar atenção das vovós, puxar os cabelos da irmã ou disputar o colo da mamãe com o irmão, para ser dama-de-honra das titias...

É como ter um dedo amputado: você aprende a "se virar" sem ele ali, mas a cada vez que olha, a ausência se destaca. É perfeitamente normal e aceitável que você, ao olhar esse "buraco", devaneie sobre como seria a vida se ele ainda estivesse ali... você fica triste, chora, mas a vida logo empurra para frente e você segue, amputado.

...e hoje, quando deveríamos celebrar seus 3 anos, somos chacoalhados pela dura realidade da sua partida, há 2. (se você pudesse, diria a essa sua tia aqui se, aí onde você está, agora, o 'regresso' à morada eterna é celebrado na data em que ocorre?)

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Muito mais que "dia dos namorados"

Imagem daqui
Porque quando a vida nos fechou certas portas, abriu uma janela de frente para a outra, e a gente se [re]encontrou.

Porque não há contas a pagar, falta de grana, problemas no trabalho, com o(s) carro(s), com a(s) família(s), com terceiros, trânsito, resistência de chuveiro queimada, nada é tão forte que possa abalar essa estrutura que construímos.

Porque não há um só dia que amanheça, em que eu não almeje acordar ao seu lado.

Porque quando somos dois, somos namorados; quando somos três, somos uma família.

Feliz Dia dos Namorados! <3 p="">

sábado, 7 de junho de 2014

Trinta e três

"Ela tem muita dúvida como todos têm. 
Mas nem todos sabem a beleza de saber lidar com a tristeza. 
Ela sabe. 
Ela ouve a música que seu coração pede e modela seu ritmo ao seu estado de espírito. 
Ela dança a coreografia de seus sentimentos, e todos podem ver. 
(…) 
Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. 
Ela fala com o coração e sabe que o amor, não é qualquer um que consegue ter. 
Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive."

(Caio Fernando Abreu)

Trinta e três anos, caindo, algumas vezes chorando ali, ainda ao chão; outras tantas, engolindo a dor, batendo a poeira, levantando como se nada tivesse acontecido. Nem todos sabem quantas cicatrizes carrega, pois poucas são as visíveis. Acalenta tristezas como quem nina uma criança, alimenta esperanças como quem rega uma planta no primeiro raio de sol, reza para ser ouvida e atendida por uma força desconhecida; sorri, porque acredita que a vida vai mudar logo ali, quando virar a esquina.

Parabéns, você. Eu. Feliz aniversário!

terça-feira, 3 de junho de 2014

"Pessoas que são donas da verdade e irredutíveis em suas opiniões"

Ontem, voltando para casa após um encontro adorável com uma querida, que eu conhecia há, sei lá, 8 ou 10 anos, somente pela internet, ouvi a coluna da Inês de Castro na Bandnews FM.

A coluna se chama "Dentro do Espelho", que vai ao ar de segunda a sexta, às 11h17, 20h25 e 4h57. Caso prefira acompanhar, ou ouvir o áudio do que vou transcrever a seguir, basta acessar http://bandnewsfm.band.uol.com.br/colunista.aspx?cod=37

Pois bem, na coluna do dia 02/06/2014, ela falou de um tipo bem comum de gente, ou melhor, de comportamento humano. Transcrevo:

"Tem gente que não discute, não ouve, não avalia opiniões alheias. É gente que sabe, e porque sabe não precisa que ninguém lhe diga nada, as opiniões estão todas prontas, fechadas, concluídas. Dá um pouco de medo dessa gente que sobe no seu 'palco imaginário', esses 'discursivos' de plantão, que a bem da verdade são um pouco burros também. As boas construções de ideias,  de possibilidades, de soluções são feitas à custa de muito ouvido, também de palavras ditas, mas de muitas mais escutadas. Quem ouve os outros, e dos outros, tem muito mais chances de elaborar pra si mesmo, refletir o que pensava, o que passou a pensar, e o que talvez, no futuro, vá pensar. É predicado dos mais inteligentes, também, o 'saber mudar de ideia'; não sempre, nem à toa, mas quando provocado por alguém que lhe traga uma possibilidade melhor que aquela que se acreditava antes.

Dia desses eu fui a uma palestra, e a senhora palestrante em questão começava todas as suas frases dizendo '-olha, é assim'; e à todo 'é assim', eu percebia a plateia se revirando, incomodada, porque as sentenças e ideias vinham todas prontas e concluídas, e não permitiam a participação de mais ninguém. Então o espaço foi se esvaziando, se esvaziando, ficaram uns dois ou três gatos pingados, talvez os mais curiosos em saber até onde ia a palestrante com o seu 'discurso hermético'. Sem graça, ela acabou botando um ponto final e foi embora, sozinha. Aliás, como ficam todos aqueles que falam muito, mas não sabem ouvir." 

Não é segredo para quem me conhece pessoalmente, ou para quem lê o blog, que eu já construí e reconstruí inúmeras vezes os meus pontos-de-vista; especialmente no que tange aos comportamentos de vida, a exemplo do fato de haver abandonado hábitos alimentares ruins. Há, sim, bandeiras que eu sustento e defendo, até que me apresentem ideias capazes de promover mudanças. 

Se não fosse para ouvir mais do que falar, por que raios teríamos dois ouvidos, e somente uma boca? E o cérebro está aí não só para preencher o espaço vazio da cabeça, mas para ser utilizado.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Limões que a vida dá, e uma campanha

A vida a-d-o-r-a me dar limões, é incrível! 

Creio que, de tanto fazer careta (coisa que a idade já não permite mais, sem cobrar um preço alto), desenvolvi uma capacidade de avaliar, antes de simplesmente me maldizer. Tal postura tem evitado dissabores, ou  pelo menos amenizado. 

Antes de noivar, ouvimos diversas pessoas dizerem a mesma coisa: fiquem noivos, e a vida vai abrir portas. Olha, pode até ter aberto alguma, mas a principal segue trancafiada, mais até que cofre de banco. A gente faz contas e mais contas, já começou a poupar o que dá, só que nesse ritmo, planos só lá para março de 2015... conta de gente otimista, tá?

Ahhhhhh, como eu queria ter paitrocínio ou mãetrocínio, mas a realidade anda longe disso; se bobear, acabo filitrocinando uma, e na mais remota das hipóteses, o outro. Sim, meus caros, that's true. Se você que me lê mora sob o teto do(s) genitor(es), for free, agradeça ajoelhado! Lá em casa, praticamente pago aluguel para morar, rsrsrs. 

Então, nessa linha de condução, eu tive que escolher entre priorizar uma festa, ou mudar; óbvio, pelas linhas escritas anteriormente, até março do ano que vem não terei nem um, nem o outro. Depois que conseguirmos mudar, vamos "rebolar" para nos manter, e aí, quem sabe, planejar para, só Ele sabe quando, reunir meia dúzia de pessoas para celebrar essa união.

Pois é, eu podia estar chorando, eu podia estar deprimida, mas estou trabalhando, tocando a vida. (rimou!) 

Quem sabe alguma alma generosa vai ler esse post, e contribuir voluntariamente para essa empreitada.


segunda-feira, 19 de maio de 2014

Dezenove... muito amor envolvido!

Não que eu precisasse usar das redes sociais, ou do blog, para expressar gratidão, admiração, desejo de estar perto, de crescer junto, de mudar para melhor... entretanto, trata-se de uma maneira de eternizar momentos especiais, como o transcurso do natalício. 

[risos] Eu não poderia desperdiçar a oportunidade de fazer uma piadinha com o formalismo da nossa profissão! ;)

João, nesse dia 19 de maio, data em que adicionamos outro mês de convivência aos muitos que pretendemos ter, há um motivo mais intenso a ser comemorado: seu aniversário. São 33 anos de vida, dos quais vivi uns bons 5 anos de sala de aula, e outros [quase] dois de relacionamento. 

Muito além de compartilhar a mesma idade [a diferença é de meros dezenove dias - sempre dezenove, quase um número cabalístico, rsrs], compartilhamos as agruras da profissão, mas também sonhos, ou melhor, construímos! São muitos tijolos, outras tantas pedras que recolhemos pelo caminho, doses de argamassa... as estruturas são sólidas, isso já comprovamos inúmeras vezes, nossa fundação foi bem feita, daí porque os passos seguintes dependem somente de prudência.

Obrigada por tornar os meus dias mais especiais, por me permitir cuidar de você, da sua filha, da história que estamos escrevendo, juntos. Amo você, meu noivo. [altas doses de amor nessa grafia "noivo", viu?]

Feliz seu dia.
Feliz nosso dia.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

"Para que seja bom como já é"

http://youtu.be/yZP9Oc4aoJU

Pedido De Casamento
Arnaldo Antunes

Eu sei que a gente ia ser feliz juntinho
Pra todo dia dividir carinho
Tenho certeza de que daria certo
Eu e você, você e eu por perto

Eu só queria ter o nosso cantinho
Meu corpo junto ao seu mais um pouquinho
Tenho certeza de que daria certo
Nós dois sozinhos num lugar deserto

Se você não quiser
Me viro como der
Mas se quiser me diga, por favor
Pois se você quiser
Me viro como for
Para que seja bom como já é

Eu sei que eu ia te fazer feliz
Dos pés até a ponta do nariz
Da beira da orelha ao fim do mundo
Sugando o sangue de cada segundo

Te dou um filho, te componho um hino
O que você quiser saber eu ensino
Te dou amor enquanto eu te amar
Prometo te deixar quando acabar

Se você não quiser
Me viro como der
Mas se quiser me diga, meu amor
Pois se você quiser
Me viro como for
Para que seja bom como já é

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Bloqueios, FIFA, e a gente aqui passando recibo de incompetência

Quem deu à FIFA o direito de atropelar, ou melhor, interditar a minha garantia constitucional de ir e vir? Ora, raios, se vai ter ou não Copa do Mundo com jogos aqui em Fortaleza, pouco me interessa. 

Daí hoje, quinta-feira, mudo a rota habitual para chegar ao trabalho, e me deparo com uma paspalhada sem precedentes, provocada pela presença de um vagabundo qualquer, dirigente da porcaria dessa Federação Internacional. Sim, porque interdição sem programação prévia, sem informe à população, e principalmente, sem uma ação coordenada, gera caos e estresse.

Pelo visto, o nosso digníssimo Prefeito, anda preocupado tão somente com as "sopas", caldos e líquidos que deve ingerir, posto ter-se submetido à redução de estômago na semana que antecedeu o feriadão. Sim, porque só isso justificaria a incompetência do secretariado, dentre os quais está o Presidente da AMC, autarquia que regula (?) o trânsito na capital.

Senhores, bastaria um pouco de inteligência e boa vontade, e instruções claras aos patéticos agentes de trânsito, que se perfilam lado a lado, em frente a uma fileira de cones que interditam uma via, limitando-se a olhar para o nada e fazer sinal de "siga em frente", para quem intencionava converter à esquerda.

Estúpidos - gestores e comandados - que sequer se dignam a dividir-se em duplas, para não permitir a conversão em determinado ponto, e orientar o fluxo através de uma rua logo adiante, cujo sentido deveria sofrer alteração emergencial, dadas as circunstâncias, de modo a autorizar a conversão para viabilizar o acesso ao trecho não interditado da via.

O resultado da incompetência sistematizada é a supressão de todos os direitos dos cidadãos que pagam impostos nessa cidade, simplesmente pela presença de um cacique qualquer, a propósito de um evento que nem deveria ocorrer aqui, já que não temos estrutura nem para orientar um desvio.

Só digo uma coisa: ê, ê!

segunda-feira, 14 de abril de 2014

O meu pecado de pensar

"Meu Deus, me dê a coragem de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites, todos vazios de Tua presença. Me dê a coragem de considerar esse vazio como uma plenitude. Faça com que eu seja a Tua amante humilde, entrelaçada a Ti em êxtase. Faça com que eu possa falar com este vazio tremendo e receber como resposta o amor materno que nutre e embala. Faça com que eu tenha a coragem de Te amar, sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo. Faça com que a solidão não me destrua. Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. Receba em teus braços o meu pecado de pensar."
Clarice Lispector

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Porque sim...

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,

Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

- P. Leminski

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Deveria ser humano

Eu vivo perdendo e recobrando a fé no ser humano, mas devo confessar que, há muito, a balança tem pendido para as perdas, muito mais que para os ganhos. Pois bem, minha mãe e minha tia contam coisas sobre meu avô materno, cuja principal característica era a avareza.

Provavelmente, a origem humilde, as situações vivenciadas na infância com relação a fome e outras situações, fomentaram a garra e a ânsia de mudanças, de modo que vovô reuniu um considerável patrimônio que permitiu a ele muitas regalias. Mas isso não facultou boa vida às filhas, que fique claro. Não que tenham amargado fome ou falta de teto, mas estudaram em escolas públicas, pagaram a própria faculdade, enfim.

A verdade é que a gente morre, e os bens materiais ficam... os caixões não possuem gavetas, até onde eu saiba. Então por que, em tendo posses, sendo empresários, detendo qualquer posição de comando sobre outras pessoas, as criaturas insistem em usar chicotes, pau-de-arara, pelourinho, entregar a contragosto os restos que lhes caem das bocas fartas?

Por um mundo em que o bom senso seja algo natural, oremos...

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Sweet dreams are made of this

Imagem daqui
Sim, todos estamos procurando por algo. E um dia, andando por aí distraído, a gente esbarra n'alguém, ou tropeça e é acodido, recebe uma palavra de conforto naquele que parece o pior dia da vida.

O tempo passa, as coisas vão se adequando, adaptando aqui e acolá, os problemas também dão as caras, e aí você percebe que sim, é isso mesmo, uma vida de grandes decepções, tristezas profundas, encontros e despedidas. Mas acabou, quer dizer, vai começar.

Obviamente, não é isento de dor, de ansiedade e uma pitadinha de sofrimento. Afinal, você cresceu, caríssima criatura, e precisa tomar decisões de adultos. Custam caro? Sim. Mas valem a pena, o futuro dirá como valeu.

Não importa quantas interferências haja, siga em frente; vão atirar, claro, mas você só cai se quiser. É como se, a partir de então, você passasse a ser de titânio... mais pesado, porém mais resistente. Nem toda pancada vai doer como antes, porém não convém ignorar o calibre de determinados armamentos, ok?

Pois bem, sonhos são feitos de sangue, suor e lágrimas... só que a jornada entre abandonar a inércia, e alcançá-los, depende de atitude, e conta com ajuda divina!

 

sexta-feira, 21 de março de 2014

Pensando bem...

"Ando tão perdido em meus pensamentos
Longe já se vão os meus dias de paz"*

Uma mente monotemática, não descansa, não dá sossego... análises, conjecturas, hipóteses, e o corpo não se move. Tenho me sentido como o homem do filme "O escafandro e a borboleta", que sofre da síndrome de "locked-in" [Síndrome do encarceramento é uma rara condição, onde os movimentos do corpo inteiro são paralisados com exceção dos olhos, mas as faculdades mentais se mantêm perfeitas. Fonte: Wikipédia].

Juro que procuro alternativas, focar noutras coisas, mas a qualquer hora do dia [ou da noite] o assunto povoa os pensamentos, e quando não há mais como reter, o jeito é abrir as comportas e inundar os ouvidos alheios. Provavelmente estou me tornando [ainda mais] chata, repetitiva, previsível. 

Se aquela história toda que o filme/livro "O Segredo" for real, factível, então deve significar que estou mais próxima daquilo que almejo. Às vezes, as visualizações são tão reais que chegam a causar comoção. Em mim, óbvio. O curioso é que eu sempre achei que daria conta de um roteiro num piscar de olhos, porém descobri que não... sei lá, talvez eu seja só aquele cachorro correndo atrás do carro, latindo... e se o carro parar, o que eu vou fazer mesmo hein??? rsrsrs

E quando for de verdade? E se não acontecer?

João, meu amor: "Eu não te dou sossego, e eu não me deixo em paz"**. rsrsrs

*Acelerou, Djavan.
**Confesso, Ana Carolina.

terça-feira, 18 de março de 2014

Jogando frescobol... rsrs

O texto a seguir, de Rubem Alves, retrata com maestria a realidade dos relacionamentos. Estúpida da criatura que julga as famosas "DR"s como algo ruim... ruim mesmo, nocivo, maléfico e cancerígeno é varrer para debaixo do tapete aquilo que precisa ser externado. 

Só que conversar, quando se trata de relacionamento, pressupõe a existência de maturidade, que por sua vez demanda desenvolvimento mental compatível. Daí porque, via de regra, perduram as relações cujos personagens compreendem a importância vital de falar e ouvir. E isso, vejam só (!), alimenta o amor. 

E você, prefere um relacionamento do tipo "tênis" ou "frescobol"?


Depois de muito meditar sobre o assunto
concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e
há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte
de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo
frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo
inteiramente. Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um
deveria se fazer a seguinte pergunta ‘Você crê que você seria capaz de
conversar com prazer com esta pessoa, até a sua velhice?’ Tudo o mais no
casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas
construídas sobre a arte de conversar.”


Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos
baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em
separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte,
como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, 

e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: 
começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. 
O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou
da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita
sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os
carinhos que se fazem com as palavras.
E contrariamente ao que pensam os
amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o
tempo todo: “Eu te amo, eu te amo...” Barthes advertia: “Passada a primeira
confissão, ‘eu te amo’ não quer dizer mais nada”. É na conversa que o nosso
verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez
poética
. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua
derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se
tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do
ponto fraco do seu adversário - e é justamente para aí que ele vai dirigir a
sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é
o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto,
justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário
foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de
outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e
uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se
a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior
esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro
possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.
Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro
erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é
como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido,
pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ire vir... E o que errou pede
desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância:
começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de
palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à
espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos
fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos
Primeiros Cadernos, é sobre este jogo
de tênis: “Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de
brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói
todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua
superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o
ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo’.
A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe
a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida.’ A situação está salva e o ódio
vai aumentando.”

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... 

O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre
perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser
preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração
. O bom
ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do
outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que
os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para
que o jogo nunca tenha fim...


(Correio Popular, 1991 ou 1992)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Desagravo

Há pessoas na vida da gente que, honestamente, servem mais para atrapalhar, do que para fazer despertar aquele sentimento que nos impulsiona a evoluir espiritualmente. É o tipo de pessoa que, muito longe de nos cativar, alimenta nossos instintos mais primitivos, alguns dos quais estão capitulados no Código Penal pátrio.
Pois bem, eu não tenho receio de admitir que sou egoísta: o que é meu, é meu. Isso no aspecto material, ok? Pessoas não são propriedades, ainda que eu defenda as que me são caras, com unhas e dentes.

Retomando o raciocínio: eu trabalho desde os 18, 19 anos. Com a contrapartida [financeira] do meu esforço, adquiro bens materiais, dos quais usufruo como me convier fazê-lo. Daí porque julgo absurdo, quase um crime mesmo, a criatura fazer uso (sem qualquer permissão), daquilo que me pertence.

A brilhante solução que as pessoas me apresentaram, a de trancar o quarto, além de representar o total fracasso da pedagogia para o caso, revelou outra tendência de nuances igualmente vis: a "caça" à cópia da chave, que a empregada cuidou de "mudar de esconderijo" justamente pela reiterada prática de "caça".

Bom, eu vejo programas de investigação criminal, e estou começando a perceber que os comportamentos dos psicopatas, maníacos, vai se revelando durante o curso da vida, até o dia do primeiro crime. Ninguém se torna assim da noite para o dia, isso é uma construção, e quem está próximo vai se omitindo, julgando isso ou aquilo como "excentricidade", dizendo "-não se incomode, ele(a) é assim mesmo.

O Senador e Professor de Direito Constitucional, Pedro Taques, ex-Procurador da República, disse que "não é a ocasião que faz o ladrão, a ocasião apenas desperta o ladrão que há em você". Eu concordo, porque há muita gente honesta que tem livre acesso aos bens alheios, e jamais se deixou seduzir, segue firme em seus princípios, respeita seus valores.

O post de hoje é um desabafo, um desagravo, e um alerta aos pais: criem seus filhos para que compreendam que o próprio direito finda onde o do outro tem início. O que nos torna diferente dos animais, segundo consta, é a capacidade de raciocínio. Já os animais, tidos como irracionais, dão lições sobre convivência e respeito ao espaço do outro.

Bad girls vão aonde quiserem

Perdoem-me os supra educados, os polidos, os religiosos, mas eu não sou muito de convenções sociais; quando criança, é comum que os adultos nos forcem a "falar com fulano", e a gente acha um saco. [obrigada, memória querida, pelos episódios bem guardados, vívidos, nesse quesito]

Óbvio que, profissionalmente, a gente engole um sapo, um dinossauro, uma jubarte... mas sempre arruma um jeitinho de regurgitar, posteriormente: esportes, saídas, gritos abafados no travesseiro, vale [quase] tudo. 

Ocorre que é muito comum ser "apanhado de surpresa", numa saia-justa perfeitamente evitável, mas que na prática é intencional. Sinto muito a falta de modéstia, mas sou perspicaz e bastante sagaz no quesito "leitura de cenário" e identificação de situações... percebo as nuances, mesmo quando os personagens se esforçam para fazer parecer casuística. 

Pois bem, eu sou indelicada, admito. Calculo consequências na velocidade da luz, mas não é bom confiar, pois os instintos aqui são aguçados e reativos: nem sempre vou conseguir evitar uma "gentileza". Não sou do tipo que sorri amarelo e pronto. Pelo contrário! Então, quando você pensar que pode agir assim ou assado, e receber uma resposta, digamos, pouco polida, agradeça aos céus... você acabou de escapar de um tapa na cara, para ficar no básico. 

Então, para o bem da sociedade, e dos demais envolvidos, evite situações, não se ponha em rota de colisão comigo. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, e eu não vou deixar passar a oportunidade de dizer a que vim. É que quando eu sou boa, eu sou boa, mas quando eu sou má, sou melhor ainda. Pergunte a quem conhece.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Apareça, Mother Mary!

Juro que preferia que minha vida fosse um episódio do Glee. Sim, porque os dramas - guardadas as proporções, visto que a série trata de adolescentes no ensino médio, ou recém-saídos dele - são semelhantes, mas o final é sempre otimista e embalado por interpretações bacanas de músicas diversas, que vão de Lady Gaga aos Beatles.

Hoje foi o caso. Ainda de férias, zapeando canais aleatoriamente, deparo-me com um episódio em que tudo acontece de modo a "casar" com canções dos Beatles. Óbvio, dadas as minhas condições emocionais no dia de hoje, contive as lágrimas com a ocorrência embalada por "Hey Jude", mas o épico e devastador momento foi o ato final, em que a Rachel atende [como garçonete, num típico café nova iorquino] o diretor de uma peça para a qual havia feito uma audição, para o papel com o qual sonhou a vida inteira. Momentos antes, ela diz aos amigos que desistiu de ter esperanças sobre o papel, em razão da demora, e está tentando seguir a vida.
Mas o cidadão pede a ela um bolo, e diz que precisa que venha escrito nele "Parabéns, Rachel Berry, você será Fanny Brice". Claro que em meio aos gritos de êxtase, congratulações dos clientes e demais funcionários, o episódio termina com a Rachel cantando "Let it be".

Foi impossível não ansiar por algo do tipo, mas a realidade impõe seus braços pesados e cruéis sobre mim, impedindo os movimentos: estou paralisada. E não, eu não quero que me digam "deixe estar", quero que o diretor apareça e me peça o bolo, diga o que quer que seja escrito nele, quero chorar de alegrias, não mais de decepção.

Até meu retorno ao trabalho, quero viver aqui trancadinha em mim mesma, no meu mundo [de sonhos] onde a decepção não ousa bater na porta e estragar tudo. Onde a realidade não existe.

Let me be, let me stay here.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Eu posso, e será um dia de cada vez

Imagem daqui
Não foi a primeira, e provavelmente não será a última vez, que acordei, olhei no espelho e disse: já chega. Escolhi conscientemente o que comer, ignorei os apelos do meu cérebro para manter o corpo em estado de inércia: calcei os tênis, coloquei os fones de ouvido, ativei a playlist do Daft Punk e #partiucaminhada.

Toda vez que faço coisas do tipo, é inevitável questionar a mim mesma: por que você não faz isso todos os dias??? Qual a dificuldade??? A bem da verdade, não tenho uma explicação racional para isso... vez por outra isso vira assunto na terapia, porém sei que esse processo é meu, e algumas peças já conheço e compreendo, o resto é história.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Travessia cega, porém consciente

O dia hoje foi de revisitar lembranças dolorosas. Sim, ainda que o tempo passe, há episódios que são tão carregados em tintas vivas, que o mero acesso a eles já causa algumas manchas. Só que eu posso escolher como me sentir a respeito: a terapia me ajudou nesse aspecto.

Pois bem, reavaliando com calma, estou convencida de que é preciso mesmo abandonar as velhas roupas e esquecer os caminhos, como diria Fernando Teixeira de Andrade. Porque o novo, o desconhecido, só se revela aos que têm coragem... nessa fase de mudanças, abrir as caixas emocionais e promover uma limpeza consciente, separando aquilo que segue conosco, daquilo que deve ser deixado para trás, é a pedra-fundamental para o próximo passo.

Não posso ser desonesta e dizer que não tenho medo, porque sim, eu tenho; mas a minha vontade, aliada às certezas que os dias me mostram, servem de impulso para saltar sobre o abismo. Sim, eu posso cair, mas prefiro acreditar que alcançarei o outro lado, para seguir adiante nessa jornada. Eu poderia esperar, reunir condições mais favoráveis, porém pondero que, se ficar pensando muito, vou acabar desistindo. 

Quem sabe se não é essa a porta, finalmente? Preciso bater para saber se ela se abrirá... já bati em tantas outras, então não há razões para não tentar mais uma vez. Com fé, sabedoria, e muito, muito amor, eu sei que vai ser essa. E, dizem, quem tem amigos, tem tudo!


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

As várias facetas da saudade

Eu nem sabia, fui informada pela prima Silvia: hoje, 30 de janeiro, é o dia da saudade. Peço licença para dizer que ontem, 29, marcamos mais um "x" no calendário de saudades da nossa gorduchinha.

Bom, numa vibe de aceitação dos planos de Deus, a intenção do post nem era me fazer verter lágrimas, tampouco quem lê, ok? Na verdade, esse termo "saudade", tããããããão genuinamente brasileiro*, acaba sendo empregado com outra conotação... no meu caso - e foi o que gerou o post - a situação é curiosa, porque eu sinto falta do que não ocorreu ainda...

Minha mente, meu espírito, meu coração, são capazes de criar cenários tão reais, quase palpáveis, que a sensação é de ter vivido, e querer recriar aquilo... e o fato de [ainda] não ser real gera uma profusão de emoções. Na conversa com a terapeuta, durante a última sessão, quando ela questionou qual a minha impressão sobre a situação presente, a resposta foi automática: status - à espera de um milagre.

Óbvio que não é segredo a quantidade de pequenos, porém extraordinários acontecimentos na minha vida, há algum tempo. Nem sempre o que parece[u] ruim se materializou negativamente, pelo contrário. Às vezes, os meios pelos quais as coisas acontecem não têm como ser sutis, rsrs. Assentada a poeira, a vida segue seu curso, com modificações abençoadas!

Devo confessar que parte do entendimento, de admitir certas coisas, está relacionada não só à maturidade, mas em especial às sessões de terapia... a reorganização das prateleiras emocionais é fantástica, muito melhor que "5S", rsrs. Claro que uma ligação mais estreita com a espiritualidade, facilita as coisas, porque triste de quem crê que estamos sozinhos nesse universo...

Claro que sinto falta de coisas, situações, pessoas... o emprego no termo na sua acepção original também flui por aqui. A lição que fica é uma só: viver o dia de hoje, com aceitação, coragem e sabedoria. Mas que eu bem que gostaria de antecipar um episódio ou outro dessa novelinha, ahhhhh como eu queria! ;)

*segundo a tia Wiki: "só é conhecida em galego e português, descreve a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor. A palavra vem do latim 'solitas, solitatis' (solidão), na forma arcaica de 'soedade, soidade e suidade' e sob influência de 'saúde' e 'saudar'".

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Somos dois mais um

Imagem daqui
Hoje mais cedo, o colega advogado e eu tratávamos de questões relativas a uma reclamação trabalhista... como é ele o responsável pela área, no escritório, repassei as informações que possuía, relatei as solicitações que fiz aos demais setores envolvidos... enfim, rotinas.

Não foi surpresa para mim quando ele, lendo um livro de Direito do Trabalho, relatou que na época da faculdade, pelos idos do sexto ou sétimo semestre, cursou a disciplina e, ao final, torceu para jamais ter que trabalhar na área, pois não se afinava com o tema. Sim, podem rir, eis que, justamente aquilo que ele menos queria na vida, é talvez uma de suas principais atribuições no escritório. 

Pois bem, dito isto, chego ao assunto do post: a gente nem sempre escolhe aquilo pelo que deseja passar, e mesmo se esquivando, a vida trata de forçar uma barra. No meu caso, projetei uma vida a dois, numa vibe "Carrie e Mr. Big": "me and you, just us two". 

Ao invés disso, os planos são 2+1; e não tenho do que reclamar, pelo contrário. É incrível como a gente passa a pautar a vida em prol de necessidades que perpassam as nossas, individualmente falando, uma verdadeira dança das cadeiras em se tratando de prioridades; ou policiar os próprios comportamentos, vez que os exemplos falam mais que todo e qualquer discurso; até o que se costumava ouvir, em termos de música, muda. 

Como disse a minha mãe, a vida driblou o meu intento, mostrando que, de alguma forma, eu preciso desempenhar esse papel na atual existência... ainda que de outra maneira, com reservas, muitos desafios e uma carga generosa de aborrecimentos. Estou convencida de que, dentro da minha realidade, apesar das minhas limitações pessoais, estou progredindo em prol do bem estar de nós todos, evoluindo, errando, acertando, mas principalmente, aprendendo.

O que há de admirável no amor é que quando um se dedica ao outro, esquecem-se de si mesmos.
(M Corday)