sexta-feira, 19 de setembro de 2014

"Faça o que eu digo", ou "faça o que eu faço"?

Hoje, buscando frases que serão dispostas em cartazes, no teto do corredor que dá acesso ao salão onde será realizado o evento da empresa, deparei-me com uma que fez tanto, mas tanto sentido, que resolvi compartilhar:

"Fácil é ditar regras. Difícil é segui-las." 
Carlos Drummond de Andrade

Imediatamente, lembrei o discurso de um conhecido, sobre a dificuldade de promover mudanças em si mesmo, para ser exemplo - no futuro - para o(s) filho(s). Ele, na casa dos 25 anos, já desenvolveu um nível de consciência acerca da verdadeira essência da educação: o exemplo. 

Diferentemente de criar cachorros, que não vão questionar a proibição de ingerir refrigerante quando flagrar você com um copo cheio de Coca-Cola, criar crianças é um exercício eterno e incansável de alteração de padrões de comportamento próprios, sob pena de perder a credibilidade. 

Sendo bem franca, estou convencida, ainda, de que ser figura com participação ativa na construção do caráter de alguém é, antes de mais nada, desconstruir a si mesmo - ainda que com dor e uma dose alta de dificuldade - na busca do aprimoramento como ser humano. 

Costumo ouvir que "ser mãe" ou "ser pai" é uma experiência ímpar. Ok, pode até ser para alguns; para outros tantos, engessados em si mesmos, mudança é uma palavra que não existe no dicionário. Porque hoje, mesmo optando conscientemente pela não-maternidade, porém tendo a oportunidade de ser parte ativa na vida de outrem, percebo uma mudança significativa, notória, sem sombra de dúvidas. Entretanto, a todo instante eu me deparo com situações que demandam um novo olhar, uma nova atitude. 

Sim, é demasiado confortável permanecer onde se está. Mas a pergunta que deve ser feita é: esse conforto é salutar, a ponto de não causar conflitos ou embaraços quando repetidos pela criança? Na posição que ocupo, a questão reside, muitas vezes, entre a autoproteção ou o bem estar do menor, com a ciência plena de que, não importa qual das escolhas eu faça, serei sempre mal interpretada. 

Quem convive mais de perto sabe o alto preço que eu pago, e o porquê. E não, não é altruísmo... passa ao largo disso. Enxergo mais como uma oportunidade celestial de me ressignificar, ter a consciência tranquila no futuro, e de alguma forma tentar evitar que as mesmas feridas que cauterizo em mim hoje, agindo assim, serão menores ou inexistentes nessa pessoa. Se vai ou não funcionar, o tempo dirá. Mas uma coisa é certa: não haverá cobranças por omissão. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Bolo, conversas e o futuro da humanidade

Sexta passada foi dia de celebrar a vida de uma pessoa iluminada. Tão querida, que o esposo contatou pessoas próximas para um petit comité, mas que rendeu uma alternância de conversas descontraídas e profundas. 

Curioso como o assunto "criação" acaba sempre permeando as rodas de papo. Bom, provavelmente o fato de a aniversariante ser uma dedicada mãe de duas figuras lindas, contribua significativamente para a pauta.

O que acho mais bacana nisso tudo - e daí porque resolvi escrever um post sobre o tema - é que, mesmo não sendo tarefa fácil educar uma pessoinha [de pouca idade] cuja personalidade é bastante forte, a perseverança e a noção de responsabilidade são diferenciais. Lógico que a rotina gera um estresse, isso é inegável; mas como cada pessoa reage à exposição finda por definir, separar mesmo, os casos em que o sucesso da empreitada parece mais garantido, palpável. 

Quando se escolhe, por ação ou omissão, ter um filho, assume-se a tarefa de educar ser(es) humano(s), diuturnamente, de forma consciente e responsável, com aptidões de convivência em sociedade. Só que há um detalhe, ali nas entrelinhas, que pouca gente lê: a importância do exemplo. 

Só que nem todo mundo está disposto a comer legumes no almoço, abandonar o refrigerante, trocar a parafernália eletrônica por passeios ao ar livre, deitar para dormir antes da meia-noite, tratar com educação as pessoas que nos auxiliam (babás, domésticas, seguranças, etc.), usar cinto de segurança, não ultrapassar o sinal vermelho nem estacionar em local proibido. 

Mudar dá trabalho, sim, e muito. Porém, vale a pena!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Divagando em contos - XI

"Era para ser. Estava escrito. Ela havia entendido tudo, perfeitamente: o universo conspira para que as pedrinhas se [re]encontrem. Mas as linhas miúdas no rodapé desse 'contrato', não lidas, davam conta de que haveria muito sangue, suor e lágrimas, sem garantia de sucesso na empreitada.

Seu coração - esse trem desgovernado, cuja alavanca nem sempre funciona no primeiro acionamento - promovia interpretações aos borbotões, construindo e derrubando o castelinho de cartas, enfileirando pacientemente os dominós, que sucumbiam em sequência ao menor dos movimentos. 

Ilusão. Distinguir entre desespero de causa e 'cavalo selado' não é tarefa fácil, mas às vezes, a decisão passa ao largo de sua vontade. Mais uma vez, ela viu-se inundada de um velho sentimento, sentiu seu gosto amargar outra vez na boca. Sim, a memória é um álbum de recortes que não amarelam, não empoeiram, mesmo quando relegado a um canto qualquer de uma estante. 

A dor de querer e não obter, ela conhece bem, e não é de hoje; os discursos que soam como música tocada para fazer levitar, também não. Curioso, e não menos revoltante, era que ela insistia em desligar os alarmes que alertam para acontecimentos daquele tipo... quase como se tivesse sido treinada para sofrer. Sina.

Ela volta aos arquivos, à procura do contrato; relê todas as cláusulas, as entrelinhas, conjectura meios para aditar ou distratar. Mas as regras do jogo são imutáveis, baby. Aceite, assim dói menos. 

Daí o tom ameaçador do discurso converteu-se: passou de 'em breve' para 'um dia, talvez, quem sabe'. No fundo, algo dentro dela sussurra: 'nunca'. Entretanto, as experiências mostram que é preciso ser revirada do avesso, visto que, muitas vezes, é assim que se descobre que o avesso é o lado certo. 

Apatia. Ela chora, porque sabe que nem toda batalha merece que se desembainhe a espada; algumas estão fadadas ao fracasso, daí porque não se deve expor aos riscos desnecessariamente. E de joelhos, ela clama por uma solução. 

Põe-se em pé, de salto 15, e prossegue a caminhada, porque sabe que as soluções não tocam a campainha, tampouco ligam no celular."