quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Sem conserto nem garantia

É um cansaço desmedido, irrefreável, verdadeiramente paralisante. Não há lágrimas prontas, só a alma chora, copiosa e silenciosamente, longe dos olhos julgadores do mundo. O sorriso, a maquiagem, a aparente normalidade externa dão a sensação de que a vida segue seu fluxo habitual. Mentira, ou melhor, meia verdade. 

"Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia", diz a famosa música; o problema tem sido o fato de, justamente, não querer que as coisas volvam ao status quo ante. O que foi quebrado não tem conserto... não é resistência de chuveiro, torneira pingando, piso solto... é a dissolução da alma, a partir das palavras proferidas sem qualquer responsabilidade. O psiquiatra Daniel Barros, no podcast "Humanamente", disse à jornalista Inês de Castro, "06/08/2019 - O filtro verbal é muito importante, mas as vezes pouco usado": "aí já é uma questão de caráter mesmo, né Inês, e isso nem sempre tá no alcance da Medicina ou da Psicologia 'arrumar'.". 

Ainda que o foco, desde então, tenha sido a célebre frase de Sartre "não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você", tem sido f*d@ aplicar a segunda parte. 

Somando e sobrepondo camadas e fases de dois lutos bem distintos, os dias passam. Não se engane com a aparente calmaria... as placas tectônicas estão se movimentando, e o futuro é incerto. 

terça-feira, 30 de julho de 2019

A alma como uma cápsula de cafeteira

É difícil explicar o momento atual. Muito. O trem da vida segue em frente, aos trancos e barrancos, e a carga adicionada é sempre, sempre maior que aquela despachada nas estações pretéritas. Às vezes, o que fica para trás é algo muito precioso, e o que se coloca a bordo não tem valia, a princípio. É peso, apenas.

O sol nasce e se põe, e tanta coisa rouba o fôlego, assombra os pensamentos, drena a vitalidade e vai borrando a alegria de viver. A mala tem, sim, várias máscaras bem organizadas e à disposição; mas a alma não negocia, requer transparência, acima de tudo.

As tantas regras de convivência exigem comportamento A ou B, carimbam como "drama" o fluxo habitual, mas a ausência de empatia é o que corrói, quebra alguém internamente. É missão hercúlea dissipar pensamentos deletérios, ainda que a crença n'algo maior preconize tal necessidade. Não receber o lixo alheio é preciso, mas o mais difícil é controlar o impulso para devolver com consectários, acrescendo o próprio subproduto.

Sem diminuir a velocidade da viagem, urge recolher os pedaços, reuni-los na medida do possível, com a certeza inexorável de que mutos vazios jamais serão preenchidos; simultaneamente, um escudo invisível precisa ser erguido/construído/presenteado, para evitar que mais danos tornem impossível a reconstrução/renovação.