segunda-feira, 9 de março de 2015

A crueldade de que se é capaz

Até pouco tempo atrás, o termo "cruel" possuía significado bem restrito, e parca aplicação. Porém, esse final de semana, adquiriu forma, e passou a definir o que está para se materializar.

Mas quem se preocupa com o bem estar, com a manutenção da "base de moradia" que "melhor atender" os interesses da criança, incluindo questões relativas à "saúde física e psicológica e a educação"? Só a lei mesmo... 

Por que ousar enxergar a situação sob outro prisma, contemporâneo, desprendendo-se da combalida ideia de que o "melhor" é sempre seguir a mãe? Prejudicar os estudos, afastar do núcleo familiar, de tudo aquilo a que está ambientada e adaptada, privar de frequentar os lugares que gosta, conviver com amigos, colegas de escola, enfim, em se tratando da situação, é "normal" e aceitável.

Trinta e dois dias ÚTEIS sem acompanhar a classe na qual está matriculada... como minimizar o impacto de tantas perdas? Como ser a novata que vai entrar no grupo que já convive junto desde 26 de janeiro? Será acolhida pelos coleguinhas? Essa defasagem é justa, ou pelo menos justificável? Não creio.

Vejo a tristeza nos olhos do meu marido... vi o quanto esse final de semana de chuvas permitiu que ele fizesse exatamente aquilo que mais ama na vida: ficar grudado na filha o máximo de tempo possível, ainda que isso signifique fazer maratonas de filmes infantis, ou passar duas horas com toda a paciência do mundo, para que ela conseguisse juntar as sílabas e ler um único parágrafo do livro. E rir juntos, a cada vez que ela dizia medival ou mediOval, ao invés de "medieval". 

É tão meigo o afeto recíproco entre eles... um grude mesmo, sério, não se largam... mas também, quem não amaria um pai que corre pelo shopping, que põe no colo quando ela reclama que está cansada, que senta no chão ao lado da cama, até que ela durma, que faz palhaçadas sem se importar com quem está a redor, compra filmes e livros e assiste ou lê com ela, que pede ajuda para preparar a refeição, ainda que isso implique no dobro do tempo gasto, e no triplo da bagunça? Ah, e não menos importante: não só diz, mas prova o tamanho do amor que sente!

Daí porque o termo "cruel" define com perfeição essa decisão multiavalizada, endossada, permitida, incentivada, e todos os demais sinônimos para tal absurdo. No fundo, rezo para ser capaz de sustentar a queda desse pai, e todas as consequências; e ainda, para que essa criança não sofra mais do que já sofreu até hoje. 

Está na hora de superar essa falida e arcaica ideia de que pai não pode criar filho(a).