sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Para você, que vê a vida passar pela janela e não vive

Minha mãe sempre diz que "pena" é um sentimento terrível para se ter em relação a outrem. Dentro da capacidade quase infinita dela, de olhar as atitudes alheias com olhos empáticos, não me recordo se já a vi "sentir pena" de alguém.

***Corta para mim***

Eu sinto raiva... eu guardo rancor... eu preciso conter meus impulsos primitivos na quase totalidade dos meus dias. Anteontem, logo cedo, eu podia jurar que me transformaria no Hulk, ou num super sayajin, e foram necessárias algumas intervenções para evitar danos. Passou.

Sério, há situações que deveriam permitir agressões físicas; não falo em lesão corporal grave, homicídio, nada disso; um tapa daqueles que o Seu Madruga levava da Dona Florinda, lembra? That's what i'm talking about. Sou partidária da ideia de que certas pessoas, que parecem andar por aí anestesiadas, sei lá, um ou dois tapas poderia(m) surtir efeito positivo, tipo reconectar os neurônios. O(s) tapa(s) seria(m) uma espécie de "chupeta mental", mal comparado ao procedimento geralmente utilizado para permitir que uma bateria "arriada" funcione novamente, compreende?

Honestamente, o mundo não me parece um lugar propício para esse povo off-life: gente que não vive, uma coisa numa vibe "walking dead", que se arrasta por aí como se vivo ainda fosse, porém na real não passa de um troço ocupando espaço, enchendo o saco, e que diferentemente do que ocorre no seriado, não tem por objetivo matar/comer os vivos, e que igualmente [infelizmente] não podemos matar. Só nos resta desviar. 

N'algum momento da vida, eu senti raiva de gente assim. Hoje, eu sinto pena. A imagem mental que se forma aqui na minha cabeça é de que são zumbis, sem perspectiva alguma, sem objetivos, uma existência vazia e miserável, com uma "roupagem" de normalidade. Creio que, quando as luzes se apagam, não sobra nada além da imagem borrada e desfigurada no espelho. E medo. Apegam-se às coisas e às pessoas, numa tentativa vã de se manter boiando, não afundar. Uma baita mentira, que se retroalimenta. 

Eu só observo esses arremedos de gente, sinto pena. Nesse ponto, acabei me rendendo à caridade de, pelo menos, rezar. Se antes eu julgava tudo por uma ótica egoísta e orgulhosa de que faziam de propósito para me afrontar, superei a ponto de conseguir enxergar por cima do muro, e ver que não, não é para me aborrecer, é simplesmente ausência de capacidade, de comprometimento, de responsabilidade m-e-s-m-o. Pior: é desamor. 

Fico pensando na culpa que carregam essas pessoas que desamam. E no silêncio, na omissão, de quem tinha obrigação de, se não dar os tapas que eu falei, pelo menos responsabilizar objetivamente, punir, cortar as benesses... em resumo, obrigar a amadurecerem. Seria salutar para o protegido, e libertador para o protetor. 

Enquanto escrevo, questiono-me a quem interessa, e a que se presta a manutenção desse status quo? Seria por que o protetor se sente culpado de algo? Ou seria só o comportamento sanguessuga do protegido? Cenário provável, a meu ver, seria a conjugação de ambos. 

Quem sabe, um dia, eu alcance a evolução espiritual da mamãe, e deixe de sentir pena dessas almas.