terça-feira, 31 de julho de 2012

A escada

A escada à frente, dessa vez, parece menos penosa. Não há degraus absurdamente altos, tampouco quem está ao lado tem medo de subir. Demo-nos as mãos e já enfrentamos o primeiro degrau. Se chegaremos ao topo, só Deus sabe. O que é fato nisso tudo é que ambos empreendemos esforços reais para subir. 

Juntos.

Texto de Lya Luft: "Quando morre alguém que amamos"

Publicado na Revista Veja, de 1º de agosto de 2012.


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Dor e alegria

Final de semana que iniciou e findou repleto de saudade! Como comentei, toda sexta temos revivido aquela sexta, cheia de tristeza e dor, inundada de lágrimas e pesar. A mim, parece que os dias passam normais, e só a sexta traz e volta a agonia de haver devolvido a Deus um ser tão amado.

Sábado pela manhã foi de susto - nada que gere preocupação, posto que resolvi prontamente e só depois comuniquei aos interessados - e a tarde foi de congraçamento pela proximidade da chegada do mais novo João dessa família: João Pedro.

Vovó Eveline, tias Sandra e Silvia, com participações especiais, organizaram com primor o chá-de-fraldas do nosso príncipe, bendito entre as mulheres (somos 4 tias oficiais, e uma legião de outras por afinidade). Ver aquele quartinho pronto, à espera do caçula, amainou a dor da perda tão recente.

Enquanto nossas vidas se enchem de azul, bege e branco, nossos corações relutam em deixar para trás o rosa e o lilás. Nessa dualidade entre o luto e a alegria, seguimos vivendo, torcendo para que a esperança renasça no dia 13 de agosto, data provável do parto.

E no domingo, fechamos o primeiro ciclo: 30 dias do falecimento da nossa amada gorduchinha. Ainda que ninguém blasfeme, tampouco questione os desígnios de Deus, é impossível não verter lágrimas saudosas... e não sentir dor ao ver pequenas correndo pelos cantos, sem pensar que jamais teremos a graça de vê-la correr e cair, descobrir o mundo... 

O hiato entre a Maria Eduarda e o João Pedro haverá de ser, eternamente, preenchido por lembranças da pequena que mesmo sem ter dito muitas palavras nos 365 dias de vida, ensinou e vai seguir ensinando. 

We miss you so much :'(

sexta-feira, 27 de julho de 2012

S de sexta, S de saudade, até quando?

Há 28 dias e 5 sextas-feiras, as lembranças se avivam e a dor lancinante nos acompanha, do raiar do sol ao cair do dia, noite adentro. 

Dói ainda mais quando se lê o lamento silencioso da mãe que perdeu a cria, prestes a parir outra. É um uivo solitário, quase uma sinfonia de dor.

Até quando as sextas serão cheias de pesar e tristeza, lágrimas, por essa ausência ainda tão presente. Por que essa falta tem peso, tamanho e cheiro?

Se eu, que fui a pior tia que ela teve com certeza, sinto a textura das bochechas, do cabelinho, ouço os murmúrios, o balbuciar das únicas palavras que teremos ouvido a vida inteira... imagine quem lutou pela manutenção daquela vida desde a notícia da gravidez, até a notícia da morte?

Toda sexta, a essa hora (por volta das 16h, 17h), as sombras daquela tarde retornam e a sensação é de que o telefone vai tocar novamente, e vou ouvir aquela notícia, e refazer aqueles passos na direção do corpo sem vida. Se eu fechar os olhos, sinto o cheiro do produto utilizado na assepsia do corpo.

Ainda ontem senti esse cheiro, enquanto estava na casa da avó materna, discutindo detalhes do chá-de fraldas do nosso principezinho JP. Foi como se eu tivesse sido abraçada por um dementador*, para usar uma simbologia da saga Harry Potter. 
 
Ah, Deus, o que eu não daria para tê-la novamente entre nós, com aqueles olhinhos de coruja, aquele jeitinho meigo de demonstrar ansiedade, ou de dar tchauzinho.
 
(lágrimas de saudades, minha pequena)

* Segundo o site ASM Wiki: O dementador é uma das criaturas mais sombrias que existem. Elas são cobertas por uma espécie de manto negro que cobre sua pele podre e pegajosa, que brilha levemente. Ele se alimenta de lembranças humanas, sugando-lhes todas as memórias felizes. Nenhuma pessoa em sã consciência conhece o rosto de um dementador, uma vez que ele apenas é revelado para sugar a alma de um ser humano pela boca, ato macabro conhecido como o “beijo do dementador”. Após o ocorrido, esta pessoa que teve a alma sugada passa a ter uma semi-vida, onde apenas seu corpo se mantém vivo e a pessoa passa a viver sem memória, como uma concha vazia.

A gente cresce e enxerga o outro

Mamãe defende a tese de que as mídias em geral - blogs, Facebook, Twitter e afins - são um perigo em termos de autoexposição. Desta feita, julga absurda, além de considerar uma imensa perda de tempo. Paciência... nariz e opinião, cada um tem o seu.

Quando criei o blog, e incluí entre os endereços receptores automáticos de posts o dela, passei a ouvir comentários de toda sorte, usualmente negativos em função da sinceridade com que escrevo, desnudando a mim mesma, o que na opinião da genitora, seria pejorativo.

Não que as críticas tenham limitado minha capacidade de criação, meu desejo de transcrever em palavras o que vai em mim... mas passei a ser comedida, ainda que em proporções inferiores ao desejo dela. Sim, e você que me lê deve-se perguntar por qual motivo estou aqui a divagar sobre isso... pois bem, é que, conforme expliquei en passant, estou exposta como jamais estive.

A diferença é que, pela primeira vez na vida, decidi me colocar no lugar da outra pessoa, no intuito de preservá-la ao máximo das consequências inevitavelmente dolorosas inerentes à situação. Devo isso às sessões de terapia, e claro, a todo o sofrimento experimentado com as perdas de nossa família. 

Quando digo que a doença do nosso anjinho tocou a cada um de nós, das mais diversas formas, a mim serviu para humanizar e mostrar que há muito mais para se preocupar do que alimentar mágoas. Foi preciso perder um pedaço de mim com essa dor excruciante, para compreender. E não desejo a ninguém tal experimentação.

Se entendi que a minha ansiedade em publicizar certos atos é menor que o dever de preservar os sentimentos alheios, as relações que remanescem, creio que estou amadurecendo. Talvez fosse justamente isso que eu precisava para, enfim, merecer um final feliz.

Na verdade, final não. São reticências de um futuro que promete muito!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Muay thai novamente!

Ontem, finalmente, após 5 meses afastada retornei ao muay thai. O tatame tem uma aura mística, inexplicável. Essa nova academia acabou de troca de professor, então ambos estreamos ontem, rs.

Como de praxe, a parte aeróbica pré-treino me deixou com raiva. Ok, eu sei que faz parte e é necessário para aquecer e alongar, mas e daí? Odeio, faço porque sou obrigada.

Superada a questão, dei graças a Deus quando as duplas foram se formando e eu consegui convencer o Davi a me deixar espancar o saco de areia (mas fui advertida de que não ocorrerá novamente...). Não, eu não faço questão de treinar em duplas, porque pressupõe ter que ser sparring e eu detesto. Prefiro bater e chutar o saco a aula inteira do que ficar trocando de equipamento o tempo todo.

Sobre equipamentos, ainda cabe uma observação: Deus sabe como e quando são higienizados, então a ideia de colocar as mãos (geralmente feridas por causa dos golpes) em aparadores suados me causa náuseas. 

Como aluna, sou meio indisciplinada, confesso. Porque ele me pediu que tirasse os óculos, e eu desobedeci (a falta deles é bem mais perigosa, haja vista os 5 graus de miopia); depois instruiu algumas séries e quando dei por mim, estava alternando jeb e direto num espancamento cruel do saco de areia, kkkk.

Só que, obviamente, o afastamento dos treinos cobrou seu preço... fiquei nauseada e tive que parar, provavelmente pelo excesso de esforço, nada demais porque bastou ficar um tempo sentada no tatame para ficar melhor. Outro preço são os hematomas: os "nós" dos dedos esfolados, canelas doloridas e coloridas em tons de roxo, azul e uma mistura de cinza e verde.

Mas, a despeito dos traumas, fiquei super feliz por ter voltado a fazer algo que realmente me faz bem. Claro que, como a maioria das mulheres, eu quero o trabalho cardiovascular que ajuda (e muito!) a emagrecer... porém, a técnica é que me encanta... sentada, fiquei observando as instruções do professor e a aplicação dos alunos... não é simplesmente sair desferindo golpes... tem uma espécie de dança, a sincronia do movimento do corpo para que o golpe saia perfeito. 

Pode parecer violência gratuita para quem não conhece... mas é tão auto-defesa, se analisada de perto e livre de conceitos pré-determinados! Sem falar que, enquanto você se concentra para realizar os golpes, esvazia a mente de tal maneira que sai do treino livre, leve e solta.

Para quem tem um namorado faixa preta 1º grau de pakua, kkkkk,é fichinha.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Entre os toques do despertador

"Não havia um só dia em que não sonhasse com a desnecessidade de pular da cama às 6h, e com a abolição da função 'despertador' do telefone celular. Mas como a vida adulta impelia, dia após dia ela levantava e tentava fazer as coisas terem sentido.

No carro, o esforço para manter o foco no trânsito era constante. Não podia vacilar, em razão dos congestionamentos e dos demais personagens do caos urbano. Cantarolava as canções que o rádio tocava, ao passo que rezava para a bênção de outro dia de labuta.

Se, ao fim do dia, não tivesse chorado ou dormido por cima das coisas no trabalho, estaria no lucro. Acreditava piamente que só se é feliz após o fim do expediente. A sensação de liberdade experimentada quando soava o gongo era indescritível. Curioso porque, a quem quer que perguntasse se ela amava o que fazia, a resposta era um 'sim' franco e acompanhado e um sorriso sincero.

O ser humano é engraçado, porque mesmo quando faz o que gosta, não deixa de sonhar com outras possibilidades."

O novo e suas consequências

Nesse instante, exposta na vitrine, cautela é o mandamento-mor. Claro, quem me conhece sabe que comedimento, ainda mais no que tange às escritas, gera em mim um processo de bloqueio criativo. Quando percebo que escrevo, e dali algumas linhas apago e recomeço, é porque se faz necessário um mini-retiro cheio de doses de reflexão.

No caso, a reflexão vai ser hoje, na sessão de terapia. E talvez o blog fique meio abandonadinho aí por uns dias... nada demais. Pode ser que, muito antes do que eu mesma imagino, possa retornar e transcrever tudo o que vai na cabeça e no coração, nessa nova e adorável fase.

Sinto que, enfim, vou começar a viver meu conto de fadas, cheios de pitadas de Manoel Carlos. Afinal, o que seria da vida sem uma carga de drama, não é mesmo? rsrsrs

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Vida compartilhada

"Calma, pra contar nos dedos
Beijo, pra ficar aqui
Teto, para desabar
Você, para construir!"
(Esconderijo - Ana Cañas)

É nessa vibe tranquila, em paz, que a semana começa... as coisas mudaram, e como mudaram! As perdas, obviamente, ainda ecoam na mente e no coração, mas agora os ganhos ajudam a enfrentar a vida sem medo de ser feliz.

Incrível como alguém que, até outro dia, simplesmente dormia, acordava, sobrevivia, agora faz planos em conjunto... e acredita que felicidade é construção, é possibilidade concreta.

Compartilhar sonhos, planos, profissão (kkkk, esse detalhe merece um post à parte!), manias, e sem medos, sem freios estúpidos, sem imaturidade... não tem preço!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

A recompensa da coragem

Quando eu quis ter o controle de tudo, percebi que é impossível ser de fato feliz. Só depois que compreendi o real sentido da frase da Danusa Leão: "Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável".

Claro que todos os acontecimentos do primeiro semestre de 2012, um período difícil, sombrio, do qual retirei lições para a vida inteira, a despeito de não haver me recuperado plenamente, burilaram quem eu sou nesse momento.

A vida é cíclica, óbvio. Assim como disse Heráclito, um homem não se banha no mesmo rio duas vezes, tampouco permanecemos imutáveis. Cada traço que carrego no rosto, cada cicatriz que repousa em meu peito, são provas de que não desisti de tentar e seguir adiante.

Vale a pena, ainda que seja difícil e haja momentos de dor intensa. A recompensa da coragem é maravilhosa.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Sonhos e pronomes possessivos - parte II

Curiosamente, descobri que um post antigo é quase um recordista de visualizações aqui no blog. 

Mas cheguei a essa conclusão porque me lembrei de haver postado algo sobre pronomes possessivos. 

E só para atualizar a informação, agora há alguém que os emprega com maestria...

terça-feira, 17 de julho de 2012

I have no words...

XXXX:  vc conhece "metade", do oswaldo montenegro?
 Enviado às 17:29 de terça-feira
 
eu:  claro! é linda
 
XXXX:  sabe como termina?
(nao vale pescar na net!)
 
eu:  claro q sei
"pq metade de mim é amor, e a outra metade tb"
 
XXXX pois é adaptando pra mim ficaria assim: pq metade de mim é amor e a outra metade é vc

Feels like home

Eu sei que já fiz um sem-número de besteiras na vida, já empapei fronhas, ombros e ouvidos alheios com lamúrias de frustração, expectativa não correspondida, sonhos desfeitos. Vivi por dias a fio, acordando e dormindo numa rotina entorpecida. Morri, renasci, corri e dei de cara no muro.

Aos quinze, achei que aos trinta a vida seria completamente diferente. Mas sabe de uma coisa? Que bom que deu tanta coisa errada, que fiz esse monte de m*, quebrei a cara e o coração centenas de milhares de vezes.

Se eu sou como sou hoje, foi porque, ainda que tenha relutado tanto, por tanto tempo, a vida me burilou. Ainda que profundamente imperfeita, e juntando os cacos após múltiplas quebras, alguém levou em consideração uma frase do livro "O Pequeno Príncipe": "o essencial é invisivel aos olhos".

Compreendi que não preciso me adequar a nada, amputar qualquer pedaço de mim para caber num local pré-determinado. O meu lugar é moldável, acolhedor... and feels like home to me.


O rio da vida segue seu curso

Não sou o tipo de mulher que consegue ser comedida, ponderada. A terapia é justamente para encontrar esse "caminho do meio" entre o fogo e a água, a tempestade e a calmaria.

Então quem me conhece sabe, sem muita dificuldade, quando estou bem ou mal, alegre ou triste... até porque a forma que encontro para exorcizar meus fantasmas é justamente escrever sobre o que sinto, o que penso.

Se fizer um retrospecto dos mais de 600 posts do blog, é possível perceber os movimentos da minha vida... momentos bons e ruins, o meu melhor e o meu pior. Os dias mais sombrios, naquele lugar de trevas onde só remanesce uma alma querida... o alívio do fim daquele ciclo, e de tantas outras coisas da minha história.

Creio que quem me lê já percebeu que a vida seguiu seu curso natural... e tem ido além das expectativas, porque pela primeira vez na vida tenho sido eu mesma, sem receios, sem amarras, sem tentar caber num "cantinho"... e agora, sim, posso dizer que não ter o controle da situação, deixar-me conduzir como numa dança, é uma experiência cheia de significado.

Por sinal, tudo nessa história (e que história!) é repleto de significado. Mas isso é assunto para outro post...

Ou não...

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Cheguei a acreditar que jamais sentiria o sangue correr pelas veias, corar as bochechas e aquecer o peito. Enquanto eu me escondi das sombras, chorei e pedi, milhares de vezes, para que Deus alterasse aquela situação.

As perdas - emocionais, físicas, financeiras e todas as outras - abalaram as convicções, as certezas, chacoalharam as futilidades e descortinaram uma verdade para a qual eu estava cega.

Mas como canta minha musa Marisa Monte:
"mas agora o destino
a tudo modificou
Minhas lágrimas secaram
Meus tormentos terminaram
Foi uma nuvem que passou"

Não, não e não, está tudo longe da perfeição, e ainda muito fora do lugar. Não se pode querer reorganizar uma casa nas horas que se seguem ao tsunami. O que quero dizer é que, ao passo em que as ausências cobram seu preço, as chegadas amenizam a dor, disponibilizando-se a nos dar a mão para seguirmos juntos a caminhada pelo futuro.

Há as chegadas que na verdade são reencontros... e isso me lembra outra canção, só que do Lulu Santos:
"Hoje o tempo voa, amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
que não há tempo que volte, amor
Vamos viver tudo que há pra viver
Vamos nos permitir"

E é me permitindo ser feliz com esse reencontro que a vida segue seu curso, meio que homenageando quem não está mais ao nosso lado fisicamente, porém certamente torce lá de cima para que a gente faça as coisas certinhas por aqui...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

As janelas que Deus abre


"Olhava compulsivamente para o relógio no canto direito da tela do computador. 'Faz 3 dias que são 15h', pensava consigo. Inúmeras tentativas de ocupar o tempo e a mente, com produção significativa para quem não queria estar ali. Havia finalmente desenterrado um caso pendente há meses, e que com o toque de varinha mágica, ganhou vida.

Rabiscava um papel, espalhava e reorganizava pastas, mas o pensamento estava longe... consultava o celular em busca de mensagem de texto, ou atualização em redes sociais... nada aplacava aquele vazio, tampouco amainava a angústia que lhe sufocava. Chorou escondida, imóvel.

O movimento das pessoas transitando pelos corredores, o som dos carros, o vento que assolava as janelas, o ruído do cotidiano, tudo aquilo incomodava. Ela desejava o silêncio e a paz de um abraço, o afago e o olhar de cumplicidade. 

'Oh Deus, 15h15', pensou, enquanto futricava os aplicativos do celular. Até que uma mensagem apareceu, e uma sensação boa lhe assaltou. E lendo, viu-se rindo e sentiu as bochechas esquentarem, sinal de que estaria ruborizada, como sempre acontece quando sente vergonha. 

Naquele instante, viu acender uma luz em meio às sombras do que havia se tornado a sua vida, desde os últimos acontecimentos. Percebeu que Deus fecha portas, mas abre janelas com vistas lindas. E decidiu se debruçar por sobre uma destas, para contemplar a paisagem.

'Seja feita a Tua vontade', mentalizou, enquanto respondia aquela mensagem de texto."

quinta-feira, 12 de julho de 2012

As chaves que destrancam

"Impossível ignorar como as coisas se modificam quando existe aceitação, e se permite que o tempo aja sem interferências. 

Naquela tarde cinza, em meio ao caos da rotina, um torpedo e uma ligação. Era 'o ex', com perguntas desconsertadas e pontuais sobre o presente. Sim, o presente sem ele. Ela riu disfarçadamente, respondendo 'sim' e 'não' a perguntas do tipo 'você está com alguém?', ou 'você conseguiu mesmo me esquecer?', e ainda 'tá resolvido de verdade para você?'. Diante da naturalidade com que ela respondia a tudo, ele justificou sua atitude como 'uma crise de posse'.

E haveria de se manter perpetuamente a lamentar que ambos tenham seguido caminhos separados? 'Jamais', pensou ela.  Por sinal, ela compreendeu que somente quando aceitou o fato de que não haveria um 'felizes para sempre' naquela relação, é que as chaves destrancaram as portas.

Riu outra vez, ao se dar conta de que as chaves estiveram sempre ali; ela é que não utilizara as corretas. "

Para cacos, cola ou vassoura?

Sou distraída e desastrada. Quem me conhece sabe disso. 

Na semana pós diagnóstico da pequena, bati o carro 2 dias seguidos. Pura distração. Ok, nada demais, nada que um martelinho de ouro não dê jeito, até porque só uma ralou, a outra passou incólume.
 
E você deve estar se perguntando por que trago à tona esse episódio. Simples, porque ontem eu coloquei para cozinhar ovos de codorna, e fui ao quarto; quase coloquei fogo na casa, porque esqueci de voltar à cozinha.

Fora os ovos torrados, nenhum prejuízo. A panela inclusive continua com as alças intactas.

O que eu quero dizer com isso é que por trás da aparente normalidade, do cumprimento de rotinas, estão escondidos os cacos que não consegui juntar, para colar ou descartar. Embaixo dessa vestimenta, dessa maquiagem, há alguém que preferia estar em pijamas, dormindo para esquecer a dor que insiste em latejar.

Não que eu não esteja tentando enfrentar, a terapia está aí para provar que tenho lidado bem com as ocorrências. Mas como sou de carne e osso, provavelmente um retiro de alguns dias ajudaria a reordenar e realinhar. 

Como não posso me dar esse luxo... escrevo. Fazer o que, não é?

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Ainda que por um dia

"O celular despertou e ela decidiu que não iria ao trabalho. Aliás, decidiu que não estaria disponível para o mundo... tirou o plug do telefone da tomada, desligou os celulares e guardou todos fora do alcance da vista.

Na ânsia de viver momentos introspectivos, fez tudo como de costume. A diferença foi que ao invés de bolsa de couro e salto alto, adotou bolsa de palha e chinelos; nada de escritório, ia mesmo pegar o carro e dirigir sem rumo até qualquer praia nada badalada.

Na contramão do habitual, a sensação de liberdade começou a invadir o carro e os pulmões, com os vidros abertos e o ar matinal. A mente adulta e responsável cobrava sanidade, enquanto o coração mandava seguir em frente.

No som, nada de notícias ou propagandas... a trilha era aleatória, de músicas que recordavam momentos bons. No caminho para o desconhecido, as vontades e desejos eram respeitados. Barraquinha de frutas no acostamento? Mãos e boca lambuzados. Flores? Cabelo enfeitado.

Enquanto via as placas passando, ela se questionava pela demora em atender essa vontade súbita de esquecer quem era, ainda que por um único dia. E sem se importar com o julgamento no dia seguinte, decidiu ser feliz... e seguiu caminho."

terça-feira, 10 de julho de 2012

O post inacabado

No dia do aniversário da pequena, eu estava escrevendo um post quando recebi a ligação que me fez correr de volta ao hospital. Eu sequer sabia que havia ficado gravado, inacabado... hoje, ele é a demonstração clara de como a vida é efêmera... e que o amor precisa ser alicerce em tudo:

E daí que eu sou uma tia temporã?
E daí que tenha sido essa doença o fogo que derreteu o gelo?
E daí que o passado não pode ser modificado?

E daí?

Deus nos deu a capacidade de compreensão de que os dias estão aí para nos permitir mudar, corrigir a rota, evitar uma colisão fatal. Descobrir um amor é


Descobrir um amor é tão perfeito, tão divino, que ainda que só tenha sido uma sensação experimentada por instantes, seguirá na memória para sempre.

Um exemplo de homem, meu avô João

Você esteve ali desde o início... deve ter fica surpreso quando soube que eu estava a caminho, mas tratou de abrir um espaço que seria só meu na sua vida. Provavelmente, esperava o almoço ficar pronto quando soube que eu não queria mais esperar, e foi a hospital me ver, esquecendo a fome e o fato de que era um domingo, 13h15.

Quem sabe - porque eu não me recordo - mas você presenciou momentos importantes do meu desenvolvimento... e sofreu com a separação, ainda que temporária. Abrigou a todos nós, quando essa nova família decidiu seguir o mesmo caminho que você decidiu trilhar, um pouco antes.

Foi na calçada da sua casa que aprendi a andar de bicicleta, e na sua varanda, quantas e quantas vezes eu fiz bagunça! O trajeto entre a minha casa e a sua, no caminho, tantas vezes paramos na padaria que sequer existe hoje, e ganhei sonho. Outras tantas que fui levada, você entendeu que disciplina era sinônimo de passar longos minutos ajoelhada sobre o milho.

No quintal da sua casa, tantas vezes pintamos o sete enquanto você tentava se concentrar e consertar aqueles aparelhos todos. Eu achava que você era mágico, ou o Super-Homem... aquelas tvs enormes, pesadas, que você carregou por anos a fio, e que transformaram a sua coluna de forma dolorosa. Ah! e como não lembrar da mágica de deitar embaixo do carro, e fazê-lo funcionar perfeitamente?

Será que eu herdei esse gene? Sim, porque alguns das habilidades eu coloco em prática, ainda que noutras searas.

Quando eu entrei na faculdade, as suas considerações sobre ter sucesso e ganhar dinheiro... o seu orgulho na minha formatura, por ocasião da aprovação na OAB... nossa, quanta coisa você acompanhou, né?

Não sei em que momento exatamente, mas de alguma forma, os papéis foram se invertendo... e ao volante, eu é que dirigia, enquanto você - um tanto quanto apreensivo - se segurava firme e forte.

Na última sexta-feira, quando estive ao seu lado pela última vez, "seus olhos azuis como a tarde, na tarde de um domingo azul" já não eram mais azuis, já não tinham brilho... e deles eu vi escorrer uma lágrima quando me aproximei e disse que estava tudo bem. Mentira, vô, o coração estava em pedaços pela morte da pequena, e por vê-lo naquele estado.

Quando a visita terminou, 21h40, aguardamos notícias médicas em razão da sua apnéia... e rezamos - mamãe e eu - para que Deus o poupasse de tantos aparelhos, daquela morte em vida, paralizado e sem reações sobre a cama... mamãe confessou que lhe disse da nossa gratidão pelo homem que o senhor foi. E creio que tenha sido isso que o libertou do medo de partir.

Ainda que cause dor não tê-lo mais à cabeceira da mesa nas festas da família, ou que agora eu me veja sem aquele com quem eu queria percorrer o caminho até o altar, sou grata por ter visto um homem que viveu do trabalho honesto, que criou 5 filhos e sentiu a dor de enterrar um, já na velhice e cheio de limitações, a se questionar por que ela, e não o senhor.

Obrigada, vô, pelo exemplo a ser seguido. Pelo sobrenome que nem todos honram (e alguns elamearam e outros usam indevidamente e sem merecimento, para seu profundo desgosto).

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Os ciclos da vida, as cores de cabelo

Quantos ciclos você já encerrou na vida? Já parou para pensar nisso?

Mais que necessário, fechar etapas significa ter posse da chave que abre novas portas para outras possibilidades. E a afirmativa se encaixa em qualquer aspecto da vida... pessoal, sentimental, profissional, familiar...

Pode parecer futilidade, mas algumas das etapas cruciais da minha vida foram encerradas e logo em seguida os cabelos foram modificados. Há uma ligação psicológica grande entre mudar o visual e recomeçar a vida... até porque você se olha no espelho e, muitas vezes, consegue transformar de fora para dentro, quando já tentou o inverso e fracassou.

Experimente! Mas não aja por impulso... pondere as opiniões, especialmente: ouça o profissional que cuida das suas madeixas.

Sempre fui fascinada por cabelos rubios, e já percorri a cartela de cores dos super-mega-power vermelhos, super intenso, cereja e afins. A ponto de meu pai ter feito vários comentários pejorativos à época, tipo "você parece uma drag queen", ou ainda "parece um galo campina". Ok, elogios nunca foram o forte dele, deixa para lá.

Abandonei o ruivo às custas de sofrimento em todos os sentidos... mas principalmente, tendo de esperar que o cabelo crescesse para cortar. Daí o receio de voltar... porque em seguida fiquei loira. Óbvio, quem é ou foi loira sabe a mão-de-obra que é... mas compensa.
 
Digo que ser ruiva não é muito diferente, até porque é uma tonalidade que exige cuidados triplicados para não deixar a gente parecendo O Quinto Elemento, com cor de água-de-salsicha. 

Finalizando... a decisão de permanecer ruiva é o fechamento de uma etapa, início de uma nova. Pela primeira vez, a decisão foi de dentro para fora, e o que o espelho reflete é só uma demonstração da mudança que começou aqui dentro...

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Uma conclusão, tão óbvia quanto consoladora

Estalou algo aqui, e não foi meu joelho, tampouco minha coluna, rsrs. Piadas à parte, acaba de me ocorrer uma dedução que faz tanto, mas tanto sentido, que calou todo e qualquer possível questionamento remanescente em mim... vamos ao raciocínio.

A pequena não foi programada, assim como seus irmãos... no caso específico dela, a luta pela vida começou intra-útero, com algumas complicações e que resultaram num parto marcado imediatamente após uma consulta de rotina. Até aí, tudo bem. Acontece.

Quando ela foi diagnosticada, uma onda de remorso transformou-se num tsunami, e ao contrário deste, que destrói e arrasa, a onda foi de resolutividade e perdão. O que se seguiu daquele dia em diante foi uma confluência de esforços em prol do bem estar e das necessidades daquela gorducha.

Com o falecimento, o que era proximidade virou unidade, e a dor foi somada e repartida entre todos. 

Daí, inúmeras pessoas a falar que ela cumpriu uma missão, isso e aquilo, etc, e tal.

Conclusão óbvia: se não houvesse caos, a vinda dela teria sido desnecessária. Então, diante disso, ao invés de eventualmente remoer alguma m* do passado nessas relações, só tenho que agradecer porque tudo isso aconteceu, e pudemos tê-la entre nós por 365 dias.

Poker face, saca?

Acho graça... o horóscopo de hoje (Gêmeos) fala: "você está ainda mais atraente do que ontem. Uma energia poderosa está borbulhando...".

Coisa de 30min atrás, a querida responsável pela limpeza do escritório, vira para mim e diz: "- Dra., estou notando que a senhora não se produz mais como antes..."

Só lembrei daquele meme do Facebook...como eu me sinto quando. kkkkkkkkkkk

(licença, vou ali no carro colocar um salto e pegar a bolsinha com a maquiagem)

Alguém normal em busca de si mesmo

Ontem foi minha primeira sessão pós tudo. Incrível como a terapia ajuda a compreender menos apaixonadamente as coisas, sabe? Um olhar crítico, mostrando ângulos que permitem enxergar variáveis.

Devo parte significativa do meu progresso como pessoa a essa criatura que Deus colocou no meu caminho... porque mesmo vibrando, sofrendo junto, ela mantém a distância necessária que permite me auxiliar, sem tomar partido.

Obviamente, o sucesso da terapia não é mérito exclusivo do terapeuta, mas essencialmente a doação do próprio paciente... e nessa "relação", resolvi mergulhar de cabeça para me permitir ser auxiliada. Tem funcionado, e muito! 

Já disse noutro post o quanto o primeiro semestre de 2012 foi sofrido para mim, acrescendo àquele o fato ocorrido no dia 29, o doloroso dia 30... e estou convicta de que, se não houvesse o suporte psicológico, eu teria sucumbido em dor e sofrimento. Antes do blog, antes da terapia, expressar o que vai aqui dentro era impensado, quase proibido. Ah! e teve o muay-thai também... uma forma bem singela de externar sentimentos. rsrsrsrsrsrs

Fica a dica... porque terapia não é coisa de gente doida... na verdade, é para destemidos que estão em busca de si mesmos... o que vai na essência, muitas vezes encoberta por camadas e camadas de verniz social.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Vida nada redondinha

A Ana Farias, do Trendy Twins, escreveu dia desses sobre o sentimento - do qual compartilho - acerca de blogueiras por profissão, de vida cor-de-rosa e perfeitinha. Quem tiver curiosidade, o post é esse aqui.

O fato é que o mundo não é de maioria loira, nórdica, bem-nascida, que acorda tarde e vai de Toyota à academia para encontrar o personal. Noutro viés, que não o abordado pela Ana, a verdade é que a maioria de nós acorda cedo, dorme muito menos do que deveria, enfrenta caos e congestionamento, loooooooooooongas horas de trabalho, e se contenta com felicidade de segunda a sexta, a partir das 18h, e aos finais de semana, com direito a depressão quando o Fantástico está no fim.

Diariamente, a caminho do trabalho da irmã (ah, claro, havia esquecido que sou motorista particular não remunerada, muito menos valorizada), passo em frente a uma academia e morro de inveja de todos aqueles que podem malhar às 8h... Não que eu, se tivesse essa oportunidade, necessariamente malharia às oito da manhã. Provavelmente, eu dormiria até 10h, rsrs.

E falando de blogs outra vez, o meu é módico, sem patrocínios, ali a minha vida está medianamente exposta... e longe de ser cor-de-rosa. Não recebo nem e-mail de assessorias, que dirá produtos para testes... o que eu uso é comprado por mim mesma, e geralmente compartilho opiniões pessoalmente... dificilmente utilizo o blog para repassar impressões nesse sentido.

Bom, a verdade é que não vivo do blog; preciso trabalhar (e muito!) para ter o que necessito e me dar alguns luxos esporadicamente... provavelmente, quando me casar, não será com recepção no hotel mais badalado da cidade, tampouco terei assessorias me disputando a tapa. Ah, claro, tampouco meu enxoval será comprado diretamente na gringa...

A despeito de querer tudo do bom e do melhor, sei exatamente qual o tamanho do passo que minhas pernas conseguem dar. Não nasci rica, a possibilidade de reunir amor&dinheiro numa mesma relação é remota, e quase nunca jogo na Mega-Sena. Realmente, creio que terei de dormir pouco, trabalhar muito e ser feliz de vez em quando, até morrer.

terça-feira, 3 de julho de 2012

E daí se eu estava certa?

Saindo um pouco do foco do passamento... outro assunto andou pululando por essas bandas. 

Eu já me decepcionei imensamente no quesito confiar em pessoas do trabalho. Por sinal, creio que foi esse dissabor que me fez compreender que vida pessoal não se confunde e deve ser preservada ao máximo. 

Cumpre observar que, nem por isso, fechei-me em copas para as possibilidades de amizade em ambiente laboral. Graças a Deus, tenho grandessíssimas amizades oriundas do mundo corporativo. A prova disso foram os ombros que me socorreram na sexta e no sábado, entrando pelo domingo.

Só que hoje eu espreito, pondero, testo... até que me permito uma aproximação. 

Bom, mas o intuito do post nem era falar disso... mas sim de como o poder, o dinheiro e acessórios são um véu que tapa a visão das pessoas. Até que algum acontecimento - geralmente uma humilhação - arranca o véu e desnuda a verdade. 

Duas pessoas me abordaram para dizer que uma terceira anda à minha procura, para reconhecer que eu estava certa. Veja bem, não que eu me recuse a ouvir a versão da criatura sobre os fatos, mas no meu entendimento, esse encontro é desnecessário. Primeiro, porque eu cantei a bola do que aconteceria há séculos e séculos, amém. Segundo, porque a minha vaidade vai se arroubar de vomitar o que ainda há aqui dentro, sobre o que vivi no inferno

Nenhuma das possibilidades me é vantajosa, ou vai atrair boas energias... só trazer ressentimento, ódio, sede de vingança. Prefiro trabalhar na terapia a dissolução do que sobrou. Por sinal, quase nada há para ser rediscutido.

Em verdade, aquela história de que a gente só dá aquilo que tem é a mais pura verdade. Quem se acha imune aos desígnios de Deus que se cuide; uma hora, a casa cai. E costuma cair bem em cima da cabeça, ou do dedão do pé.

Passando a vida em revista

Nada como um experiência repleta de dor e sofrimento para reorganizar o posicionamento das pessoas nas nossas vidas. 

Estou com imensa dificuldade de lidar com uns e outros com quem obrigatoriamente - por forças alheias, inclusive - preciso conseguir conviver. Mas sinto enjôos absurdos, vontade - juro! - de vomitar em cima, literalmente.

O ser humano é ridiculamente podre. Não me refiro à ausência ou precariedade de higiene pessoal... é moral e sentimental, mesmo. No mínimo, os deformados de alma e coração devem julgar quem sofre... devem ponderar "ah, isso é drama".

Falando por mim, posso dizer que sempre fui daquelas que se comovem com o noticiário; fiquei péssima quando houve a morte do João Hélio (o que foi arrastado preso ao cinto), a engenheira que sumiu, a Elisa Samúdio... foram dias até entender, processar toda essa maldade. Mas cada um, cada um...

E descobri, ainda, que Deus não designou de "família" o grupo de pessoas que guardam laços consanguíneos à toa. Nada mais nesse mundo merece tal denominação. Claro, amigos são irmãos que escolhemos, então acabam se enquadrando no conceito de família, nessa acepção. 

De resto, até as amizades são passadas em revista após momentos assim. No próximo final de semana, meu Facebook vai ser refinado. Perto de mim, a partir de agora, só quem eu permitir, ou aqueles com quem não tenho alternativa a não ser conviver. 

Igual à frase nos ônibus: fale somente o indispensável.

domingo, 1 de julho de 2012

Eu sinto muito, Letícia

Letícia,

eu não fui uma boa tia, mas prefiro acreditar que, de alguma forma, pude ser útil a você e seus pais quando tudo isso foi descoberto. Egoisticamente, via sua permanência no hospital como uma rara oportunidade de estar perto, poder beijar e abraçar você, ainda que você me estranhasse um bocadinho.

Perdê-la jamais, jamais foi uma opção na minha cabeça. Eu via, sim, um longo caminho a percorrer, e que ainda que não pudesse participar ativamente do processo, confortava saber que você estava ali... ter notícias suas... a gente acompanhava paralelamente, e isso nos bastava... porque era assim que tinha que ser.

Naquela quinta-feira, confesso que fiquei chocada quando vi sua cabecinha quase sem cabelinho... fazia dias que eu não via você... conversei com sua mãe sobre os planos para o quarto de vocês, e mostrei a ela as travessuras que tinha levado para sua festinha... 

Mas o que eu queria dizer a você é que eu sinto muito, muito... pelo tempo que desperdicei com imaturidade. É que nós, adultos, somos idiotas mesmo... e você que nos ensinou que amor é coisa simples. Aliás, você ensinou muito em tão pouco tempo... 

Meu anjinho, obrigada por ter me dado o privilégio de cuidar de você, ainda que tão pouco. Obrigada por ter sido forte, guerreira, enquanto nós fraquejamos diante do mais simples problema... 

Vou sentir falta do seu grunhidinho, do seu chorinho "no mudo" (rsrsrs), do seu jeitinho de dizer "não" com a cabeça, e roer o biscoito maisena, da boquinha e dos bracinhos demonstrando a ansiedade pelas colheradas de comidinha... e nunca mais vou ver a Galinha Pintadinha sem lembrar o seu fascínio... 

Mas o que mais fará falta, com certeza, é ter você no colo, segurando meu braço e apertando, só para saber se eu estava ali, mesmo. Quando me sento, sinto o pesinho do seu corpo no meu colo, princesa. E é naturalmente reativo que eu balance, embalando você.

E mais uma vez, perdoe essa sua tia... e saiba que você será sempre amada, lembrada, mencionada. Eu te aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaamo, viu?

Reviver para aceitar - parte 2

Eu presenciei o que, para mim, deve ter sido a parte mais difícil para uma mãe que perde um filho, e precisa dar a notícia a outro filho. Claro que toda mãe fica orgulhosa de ter um filho inteligente, mas a Maria Eduarda surpreendeu a todos nós, com o discernimento e capacidade de compreensão. Só que, como criança, ela queria respostas para milhares de perguntas.

Meu coração se despedaçou ao ver o olhar daquela mãe enlutada respondendo com amor e carinho a cada pergunta que mais parecia uma lança transfixando o peito. Em seguida, aquele ser inteligente me pediu para ir lá fora... e fomos ao parquinho do condomínio. Imediatamente, sentada no meu colo, ela olhou para o céu e perguntou "tia, cadê as estrelinhas do céu?"; isso porque explicamos que a irmãzinha agora era uma estrelinha... mas o dia 29 foi um dia de céu sem estrelas.

Quando fui embora, estava anestesiada. Passei em casa, tomei banho e segui para o velório com a certidão de nascimento e uma caixinha com os sapatos cor-de-rosa que mamãe trouxe de São Paulo para a pequena... junto, um par de meias. Quando parei no posto para abastecer, a curiosidade me assaltou e peguei a certidão... hora do nascimento, 19:54... olhei imediatamente o relógio do carro, 19:54. E chorando, eu disse "feliz aniversário, Letícia".

Lá, quando entreguei a certidão e a caixinha, logo em seguida a moça me trouxe a caixinha com um parzinho de meias que ela estava usando... o cheirinho dela, ai Deus, como doeu! Foi horrível toda a sequência, mas eu não quis ir para casa, dormi por lá. 

Não vou descrever tudo, porque é muita coisa, muita dor reunida em horas que pareceram intermináveis. Só tenho a agradecer a Milena, a Socorro, a Lara, a Tathy... que estiveram lá e seguraram a minha mão. A Layle, a Nanda, a Jennifer, que por telefone foram solidárias a tudo aquilo... a Flávia, que foi com a Isabella à missa... só para me abraçar. Não há palavras para agradecer todo esse carinho... só Deus para lhes compensar.

Reviver para aceitar - parte 1

Passei a semana cabisbaixa porque o aniversário da gorducha seria sexta, dia 29/06, e eu não poderia beijar aquelas bochechas. Até que na quinta, a cunhada me pediu para dormir no hospital, pois desde a terça elas estavam por lá, para o 1º dia do 2º ciclo, mais forte.

Diante da possibilidade de estar lá, corri na minha parca hora de almoço, e consegui achar faixa de "parabéns", velinha, uma caixinha linda, tudo da Galinha Pintadinha... e ignorando um possível aborrecimento da cunhada, pela bagunça que eu estava planejando, comprei balões e procurei um cupcake... como não achei, comprei uma tortinha de morango, mesmo sabendo da alergia ao leite... minha intenção era ver aquela boquinha de coração fazer biquinho e apagar a velinha. E vê-la batendo palminhas para o primeiro aninho de vida.

A noite foi difícil... e não me lembro de ter rezado tanto na vida... pedia que os anjos permitissem que a fofinha tivesse uma noite tranquila de sono, para que o corpinho fragilizado pelas reações da quimio pudesse se recompor. E foram muitos lençóis e camisetas trocadas durante a madrugada, por causa dos vômitos. Entre cochilos e choro, o dia amanheceu.

Nas oportunidades em que consegui tê-la no meu colo, para que a babá descansasse, aninhei e dei muito carinho, muito beijo naquela cabecinha já quase sem cabelinho... enquanto pensava que eu não tinha a estrutura necessária para ser mãe. 

E após outro vômito, a pessoa da limpeza chegou para lavar o quarto, como é de praxe. Chegou a me pedir que saísse do quarto, mas eu fiquei ali, embalando aquele docinho noutro cochilo... e ela acordava assustada, procurando alguém... e eu dizia que a titia estava ali, que ela dormisse tranquila. E segurando meu braço, apertando como ela gostava de fazer, ela dormia novamente. 

Meu coração me pediu inúmeras vezes para que eu não fosse ao escritório... mas acabe indo, deixando naquele quarto 64 o meu coração e meus pensamentos. E depois de um entrevero no escritório, transbordei. Eu sabia, sabia que algo estava fora do normal. Mesmo com inúmeros pedidos para que eu fosse descansar em casa, permaneci. Era um aviso de Deus, porque logo após o almoço, a cunhada ligou pedindo que eu fosse para lá, porque a pequena tinha sido levada para a UTI desacordada.

Deus é tão bom, que mesmo descontrolada, consegui sair, descer, correr até o estacionamento e seguir para o hospital sem sofrer acidente, nada. Ao chegar, conversamos e decidimos que eu levaria a Maria Eduarda e as duas babás para casa... coisa que a avó materna estava fazendo quando foi informada do estado da caçulinha, e voltou ao hospital.

No caminho, combinei com a Maria Eduarda que iríamos comer pipoca... coisa que sei que ela adora. E assim fiz... ela tomou banho em casa, contou que a avó prometeu um prêmio se ela se comportasse (e ela disse que se comportou), tomou um mamadeirona de mingau e fomos ao shopping. No caminho, ela me alertava dos fotossensores, e escovava os cabelos com a minha escovinha cor-de-rosa, que ela logo encontrou no console do carro. No estacionamento, ela me disse que preferia sorvete... e que tinha que ser branquinho (era baunilha, do Mc Donalds).

Enquanto ela tomava o sorvete, meu telefone tocou, e a notícia que eu nunca quis ouvir me foi dita. Como é que se reage a isso tendo outra criança com você? Como ser forte, meu Deus? Desnorteada, segui com ela até os brinquedos que ela tanto falava: "o papai me levou no trenzinho, tia, lá em cima". Tentando não desabar, comprei e carreguei o cartão, para que ela brincasse... foram 3 brinquedos, até que disse a ela que precisávamos ir para casa. Ela compreendeu, e fomos. No caminho, ela dormiu.

Quando cheguei ao condomínio, as pessoas se aglomeravam em frente à casa... as babás estavam inconsoláveis. Decidi não acordar a menina, para que não visse aquele tumulto. Logo os pais chegaram, e foi horrível. Ele a tirou do carro, ela acordou e logo disse "peraí papai, o meu brinquedo do Mc Donalds", que ela antes tinha me dito "tia, quem vai gostar desse brinquedo é a Letícia"

Daí em diante, só outro post para descrever o que é dor...

(continua...)