quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Quando a empatia nos faz mal

Eu posso descrever ao médico as dores, incômodos, sensações, se tive febre, se vomitei, se tenho ou não manchas pelo corpo; ele [provavelmente] me diagnosticará, dirá a medicação com posologia, e me mandará para casa. Pouco importa a dor, não dói nele, só em mim.

Algumas pessoas são dotadas de uma capacidade incrível de se colocar no lugar do outro, e sentir aquela mesma dor: é a empatia. 

De fato, quando perdemos alguém importante, ao presenciarmos essa mesma situação com outrem, deveríamos ser capazes de nos ver ali, naquela posição, e saber que o vazio da alma não pode ser preenchido, mas pode ser amenizado. Quando somos criados na indiferença, perdemos a oportunidade de desenvolver empatia; a dor alheia, as ofensas, nada nos tira do local entorpecido em que nascemos, crescemos e vivemos por longos anos. Se não me dói, por que eu deveria fazer algo a respeito?

Bom, às vezes, eu preferia ser imune ao mal que se faz aos outros. Deve ser menos sofrido ignorar, ao invés de carregar uma marca que não é nossa, entende? Porque eu sou dessas que afasta o ofendido, toma-lhe as dores... e acaba f* no final das contas. 

Lição para 2016: deixar que quem tem que apanhar, apanhe, e não sofrer com isso, nem por isso. Cada um que carregue o próprio carma. [repita diariamente, pelo menos 3x ao dia, durante 365 ou 366 dias... acho que vai ser ano bissexto].

quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Enfileirando emoções

"-Escreva. Ponha para fora seus demônios e seus anjos!"

Não foi a primeira vez que recebi esse "recado", mas coincidiu com uma postagem após uma centena de dias sem uma linha sequer por aqui. Mesmo tendo retrucado que meus escritos incomodam, ouvi um sonoro "não importa, escreva!", novamente.

Escrever, para mim, sempre foi a melhor forma de enfileirar sentimentos e fazer com que ganhem sentido; faz parte do processo de lidar com a vida. Ocorre-me, agora, enquanto escrevo, que talvez o fato de não ter lidado muito bem com determinados fatos detenha relação com a dificuldade de progredir com a terapia. A sensação de estanque me incomodava, e só agora consegui compreender o porquê.

Mas o que conduz meus dedos pelo teclado hoje é a mágoa. Obviamente, quanto mais perto você permite que alguém se aproxime, maior a probabilidade de acabar ferido; eu, nessa vibe de ser "preto" e "branco", tipo "nada cinza", traz a questão de que eu costumo me ferrar por deixar alguém chegar muito perto, e devo estar perdendo [vejam bem, digo "devo" porque, honestamente, não acredito que haja perda alguma nisso] quando impeço que certas criaturas avancem. 

Pois bem, a ferida que está sangrando é antiga... daquele tipo que nunca cicatrizou, e nem vai, por ser profunda e estar enraizada em órgãos vitais. Consigo criar uma "casquinha", mas que é tão frágil, que pode ser removida com duas ou três palavras. Estou sangrando, e escrever é a esperança de diminuir não só a dor, mas o volume a ser perdido.

Quando penso nas incontáveis vezes em que permiti uma ofensa [direta ou velada, disfarçada de "sugestão", ou de "algo para reflexão"], sinto raiva de simplesmente não reagir. Isso porque só quem ama consegue transfixar o coração de alguém tão facilmente, e com tanta intensidade, a ponto de impedir um revide. Digo isso porque, há algumas semanas, fui ofendida por um superior hierárquico e gritei imediatamente, bem desaforada, e saiu automaticamente. Quando não existe relação de afeto, a gente mantém a guarda alta, como nas lutas; porque sabe que o outro pode golpear, e não se deve bobear. 

Entretanto, no seio familiar, não existe essa de guarda levantada; daí os nocautes certeiros, visto que não se espera. E depois que a gente "acorda" do blecaute temporário, não sabe o que fazer, fica perdido. Não há vencedores, somente derrotados. Em verdade, só você está derrotado... porque se vem permitindo, ao longo da vida, comentários assim, o Universo está mandando um recadinho que você não anotou, baby. Volte duas casas.

Supostamente, é simples, e as revistas estão aí para mostrar como se faz; você não faz porque não quer, loser

Nigel: (para Andy, que está comprando o almoço), sopa de milho. Isso é uma escolha interessante. Você sabe que a celulite é um dos principais ingredientes do creme de milho? *

*Trecho do diálogo entre Nigel e Andy, em "O Diabo Veste Prada".

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

De volta :)

Há meses não escrevo para o blog... aliás, tenho escrito poucas linhas, em redes sociais. Creio que aquilo que digo não vai mudar o mundo, porque a mudança é algo endógeno... entretanto, pessoas como eu precisam externar aquilo de que discordam, para então conseguirem lidar com tudo e, quem sabe, mudarem a si mesmos.

Sou uma observadora muito crítica, deveras chata, eu admito. Nem sempre foi assim, mas a minha paciência se esgotou. Quem me conhece, e sabe uma parte da história, pode atestar que eu nunca, NUNCA, fui paciente; mas nessas circunstâncias, eu fui. Tolerância é uma virtude, sim. E eu estou longe de ser virtuosa, nesse aspecto. Provavelmente, a espiritualidade compreendeu que a única forma de me ensinar seria me testando, e como "bônus" eu teria ao meu lado um homem pacífico [até demais para o meu gosto]. 

Obviamente, se meu marido não fosse um homem sábio, eu já teria sido indiciada por lesão corporal. No mínimo. Ele, por sua vez, tem estômago de avestruz, ou algo que o valha. Isso porque ninguém engole mais sapos. É muita paciência num indivíduo só, minha gente. 

Ao passo em que as palavras saem de mim, vejo outros aspectos por trás de cada atitude, cada gesto; esforço-me para mudar quem sou, como penso, e tento agir de acordo com o que minha razão e minha emoção pedem. Não é fácil, mas nada nessa vida o é. Pessoas idiotas nunca mudam, e não medem esforços para manter as coisas do jeito que estão, mesmo quando visivelmente não está funcionando. 

Torço para que 2016 seja um ano de consolidações, já que 2015 foi um ano de grandes batalhas. 

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Ser igual é mais barato

Eu sinceramente achei que um ano de preparativos seria suficiente, em termos de planejamento e orçamento... mas no meio do caminho, alguns contratempos quase puseram tudo a perder. 

Restando pouco mais de 40 dias para o "dia d", vejo-me às voltas com a dificuldade decorrente do fato de não gostar muito do "tradicional". Explico... é que eu já vi centenas de fotos de buquês, e odeio todos os exemplares... quer dizer, quase todos, porque as flores que me enchem os olhos, das duas uma: ou vão esvaziar meus bolsos, ou simplesmente são impossíveis de se conseguir a essa época do ano.

Enquanto enlouqueço a cerimonialista com pedidos malucos, e entrego à decoradora uma missão-quase-impossível, sigo buscando referências que me levem às lágrimas, assim como aconteceu na última segunda-feira, quando saímos do ateliê da Jomara Cid.

É, caríssimos... ser diferente tem um alto custo. Sei se eu vou poder bancar não!!!

#oremos 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A observadora: sobre a consciência das responsabilidades

Sempre fui muito crítica quanto à forma como fui criada. Por sinal, não poupo minha mãe quanto aos erros crassos, especialmente quanto ao fato de ter-nos dado refrigerante na mamadeira, ou suplemento alimentar logo-após-o-almoço (a.k.a. Sustagem).

Entretanto, justiça há que ser feita quanto ao fato de que, aos 22 anos, ela casou (grávida), e cuidou da casa, do bebê, tudo isso sem ajuda alguma. Sua graduação foi nesse período, o que significa que ela também não abandonou a faculdade. 

Engravidou novamente, cerca de dois meses após o meu nascimento; ou seja, ela criou dois bebês, simultaneamente. Sem babá, sem diarista/doméstica/faxineira, sem tia (minha mãe só tem uma irmã), sem vovó (minha avó materna morreu antes que mamãe se casasse), sem p* nenhuma. Tampouco nos colocou "na creche", ainda usando fraldas. 

Com um ano de idade, ela e o meu pai me convenceram a abandonar a chupeta. Se tive que usar aparelho ortodôntico, nada tem a ver com isso. Creio que a mamadeira foi embora logo em seguida...

Pouco me recordo quanto a detalhes acerca de limpeza da casa, mas há um fato inexorável: sempre comemos comida de verdade, sempre tivemos roupas limpas, e nossa casa nunca foi um chiqueiro. Sim, eu tive toda sorte de mazelas que adquirimos no convívio com outras crianças, na idade escolar. Meu irmão passou boa parte da vida sem os "tampões" dos dedos, arrancados nos chutes de futebol. Mamãe trabalhou em hospital durante uma parte da nossa infância, e quando eu tinha 7 anos e meu irmão, 6, ela teve outro bebê.

Ah, antes que eu seja publicamente apedrejada, quero esclarecer que compreendo perfeitamente as mães que, por questões financeiras, precisam retornar ao trabalho após o fim da licença-maternidade. Conheço várias delas que, mesmo trabalhando em horário integral, ainda sim eram MÃES o suficiente para virar a noite ao lado do berço de uma criança com febre, e ir trabalhar no dia seguinte. Ou preparar toda a comida que era ofertada à criança, lavar roupa, fazer faxina, e dar atenção ao companheiro. Para surpresa geral, estão todas vivas hoje, ok?

E minha mãe passa ao largo da perfeição, viu? Há cada história hilária, como o fato de ela nos esquecer na escola, vez ou outra, e depois chegar como se nada tivesse acontecido, kkkkk. Mãe, ainda vou escrever um livro sobre isso!

A questão é que, atualmente, há criaturas que optam pela maternidade sem saber se vão dar conta do recado. No meio da história, um, dois, três ou mais filhos cuja referência de segurança, responsabilidade, afeto e afins, é pulverizada, quando deveria ser centralizada. Sejamos francos: quem não está disposto a abrir mão de qualquer nível de mordomia, deveria ponderar bastante a ideia de procriar. 

Novamente, cito exemplos de mulheres que chegaram à maternidade, voluntariamente ou não, e que fazem das tripas coração o impossível para participar ativamente da vida das crias. Mesmo cansadas, exaustas, à beira do abismo, não trocam um prato de feijão com arroz por um pacote de salgadinho, ou macarrão instantâneo, quando a questão é alimentar um filho. A todas essas mulheres, só tenho a pedir à Deus para que seus exemplos se propaguem, e com isso convidem à reflexão: estou disposta a abrir mão da vida que eu levo, em prol do "ideal" de ser mãe? Depois, a louca-egoísta-madrasta-da-Disney sou eu, né?

Às Flávia(s), Andrea(s), Roberta(s), Su(s), Gabi(s), Ju(s), Ro(s), e algumas outras cujos nominativos não tenham sido citados aqui, aceitem minhas reverências. Vocês são o motivo pelo qual eu admiro a maternidade realista e devotada. 

E fica o convite à reflexão: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim." (Chico Xavier)


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Ah é?*

Eu tinha que compartilhar esse vídeo, minha gente. Porque eu me sinto "violentada" quando o ser humano "acha" que eu "tenho que" ser mãe. Aliás, se a intenção é dizer que eu "tenho que" qualquer coisa, a chance de eu tomar o rumo diametralmente inverso é gigantesca.

E o asterisco é porque o vídeo tem esse nome, e em respeito à "dona", resolvi esclarecer.

https://youtu.be/Wy83FD0N1ug

quarta-feira, 3 de junho de 2015

A opacidade da alma

Você tem um sonho? Eu tenho, sempre tive. No meu caso, parece que é "um sonho que se sonha sozinho", já que é só um sonho.

[Perdoe-me a repetição do verbete, ok?]

Ontem, eu tive a exata dimensão dessa afirmativa... num primeiro momento, o impulso foi reagir; mas calei. Sim, isso é inédito: calar. Eu consegui. Silenciei o que havia aqui dentro, alma e coração. Jaz em mim, desde então, um profundo silêncio, uma ausência de palavras, de cores, daquilo que costumava ser o combustível para as grandes batalhas. 

É como diz a frase: o fracasso é órfão. Mas, sobre esse ponto especificamente, afirmo categoricamente: eu sou a mãe. Assim como ocorre em grande parte das concepções não planejadas, o dedo em riste recaiu sobre mim. Precipitada foi a palavra empregada.

[Oportuno esclarecer que estou utilizando uma metáfora. Não há fetos nessa história]

Hoje, passando pelas pessoas nas ruas, apressadas e emburradas, perguntei-me se a opacidade das almas tem a ver com sonhos roubados. Será que, se questionarmos homens e mulheres, é possível entabular e gerar estatísticas?

Outro pensamento me tomou de assalto, enquanto escrevo essas linhas... é que, um dia, olhei ao redor, fiz cálculos, refleti e decidi trocar de carro, assumir um financiamento. No meio do caminho, houve dias em que tive certeza de que jamais honraria o compromisso até o final. Não desisti, e eis-me aqui. 

Fecho os olhos, faço uma prece, e retomo os afazeres.
Em 4 dias, terei 34 anos. 

Imagem daqui


terça-feira, 19 de maio de 2015

Um ser em construção, outro ser pacientemente ao lado

Eu sempre busquei alguém que estendesse a mão ao meu lado, e dissesse com um simples olhar: "- vai dar tudo certo, vamos!"

Cometi muitos erros, enganei a mim mesma por muito mais tempo do que deveria, o que significa que carrego em mim cicatrizes profundas, representativas de um aprendizado doloroso, lento, porém válidos como lição de vida.

Quem me conhece sabe que sou um bloco de mármore em processo de lapidação... e a escultora sou eu mesma. E como tal, exijo um perfeccionismo que atualmente cobra um alto preço, em termos de saúde. Mas como pedra, cada pedaço erroneamente removido, lixado, ferido, requer mais cautela no manuseio das ferramentas, de modo a não inviabilizar o resultado final. 

E dada a imperfeição pessoal, os olhos com que vejo o mundo "exigem" um nível tão alto, filtros tão apurados, que escapam à média dos demais... sofrem os outros? Não! Sofro eu. E como a "régua" que uso para medir meus acertos e erros é precisa, nutro a falsa ideia de que ela pode ser utilizada para medir atos de terceiros. Estou certa, e os demais errados? Não! Tampouco é verdadeiro o inverso .

Ocorre que quem tem por padrão um determinado patamar, dificilmente consegue compreender a incapacidade alheia... quanta falta de caridade! Ser indulgente para consigo mesma, e mais ainda com os outros, é um princípio elementar do progresso espiritual. Daí a complicação: a estagnação. Ainda que aqueles que nos cercam atestem mudanças, aos olhos do perfeccionista isso nunca é suficiente, e está longe do idealizado. Consequências? Sofrimento,  mais sofrimento.

Saindo um pouco da linha filosofal, o fato é que estou tentando me acostumar com aquilo que eu sempre pedi a Deus... alguém que suporte a carga, o fardo, e ainda sim siga ali ao lado, repetindo que vai dar tudo certo. Por ser primogênita, por ter crescido num lar cujas necessidades individuais eram suplantadas em prol do coletivo, amadureci cedo demais, queimei etapas, e o instinto de sobrevivência grita muito mais alto que qualquer outra coisa.

Confiar é um verbo raramento conjugado por pessoas como eu. Porque na infância, a gente aprendeu que não era seguro, e tomou isso como uma verdade imutável; confiar, na fase adulta, é abrir espaço para uma decepção, que vai trazer de volta todas as dores, todas as mágoas, todo o cenário que a mente organizou numa caixa bem fechadinha, lá no fundo do baú das memórias ruins. 

Por trás dessa mulher segura de si, eternamente insatisfeita com o próprio corpo, com o cabelo, com tudo aquilo que [ainda] não conquistou, esconde-se uma garotinha magricelinha, de cabelo joãozinho e em formato de pipoca, vestida feito um menininho, cujos olhos enormes fitam o escuro, enquanto em prece, pede que Deus envie alguém para lhe resgatar daquele lugar de dor e sofrimento, de gritos e desordem, de desarmonia. Emudecida de medo, ela não chora, não emite um grunhido sequer; sofre calada. E pensa sempre em "quando eu crescer", sem se dar conta de que cresceu, tem responsabilidades inúmeras, e vive feito malabarista, tentando equilibrar pratos que giram sobre varas de madeira.

Hoje, no dia do aniversário do homem que me disse "sim", e para quem eu digo "sim" todos os dias da minha vida desde então, tenho a dizer que coloquei uma plaquinha, pedindo desculpas pelos transtornos decorrentes das obras em mim mesma, principalmente aqui dentro [alma e coração], que porventura causem dissabores e/ou sofrimentos.

João, obrigada por existir! Feliz aniversário!

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Qual é a sua prisão?

No fundo, cada um sabe o que lhe aprisiona, e mesmo de posse da chave que liberta, opta por lamuriar para que terceiros intercedam em seu favor. Eu tenho momentos assim, e hoje - creio - me dei conta do chaveiro reluzindo aqui, ao alcance da mão.

Há dias - quiçá meses ou anos - finjo não compreender, ou melhor, tenho me recusado a aceitar que as pessoas não mudam; em verdade, estou convencida de que elas somente se revelam. Sim, porque a forma romanceada de olhar prejudica uma visão nua e crua, a gente segue se iludindo, amenizando, procurando explicações.

Parei. 

Sabe a maçã que caiu sobre a cabeça de Newton? É, a minha caiu também, porém, eu não estava hipotetizando [ok, esse termo é uma licença literária], daí porque a pancada só serviu mesmo como um peteleco, daqueles que nos obriga a prestar atenção.

Ok, ok, estou acompanhando... prossiga!

A brilhante conclusão a que cheguei é: só eu posso mudar, e somente a mim mesma. [dããããã!]

Há criaturas nesse mundo de Deus cuja função precípua é ser instrumento para a evolução alheia. Eu tenho alguns exemplares no meu ciclo... mas dois deles, e alguns apêndices, mal sabem o quanto me deram razões para crer que já chega, já deu o que tinha que dar. Só que ao invés de sair pela porta dizendo "a amizade continua", quero ter o desprendimento para, simplesmente, dizer adeus.

[claro que a minha porção dramática está aqui dentro cantando, performática, "Let it go, let it gooooo, can't hold it back anymore, let it go, let it goooooo, turn my back and slam the door"]

Crendo que Ele, do alto da Sua misericórdia, tem feito tremer o chão para me despertar da letargia; os sinais têm sido cada vez mais claros. E o medo que me consumiu por tempos e tempos, foi-se. Já vi acontecer antes, e é parecido agora... com a diferença de que, agora, quem está ao lado é um apoio real, concreto, seguro. Chega de instabilidade, de qualquer natureza.

A chave pode ter trancado... mas agora, destrancou. É só aguardar e confiar!

E você, está esperando que venha alguém para resgatar??? Olhe para o lado, veja a chave.

segunda-feira, 9 de março de 2015

A crueldade de que se é capaz

Até pouco tempo atrás, o termo "cruel" possuía significado bem restrito, e parca aplicação. Porém, esse final de semana, adquiriu forma, e passou a definir o que está para se materializar.

Mas quem se preocupa com o bem estar, com a manutenção da "base de moradia" que "melhor atender" os interesses da criança, incluindo questões relativas à "saúde física e psicológica e a educação"? Só a lei mesmo... 

Por que ousar enxergar a situação sob outro prisma, contemporâneo, desprendendo-se da combalida ideia de que o "melhor" é sempre seguir a mãe? Prejudicar os estudos, afastar do núcleo familiar, de tudo aquilo a que está ambientada e adaptada, privar de frequentar os lugares que gosta, conviver com amigos, colegas de escola, enfim, em se tratando da situação, é "normal" e aceitável.

Trinta e dois dias ÚTEIS sem acompanhar a classe na qual está matriculada... como minimizar o impacto de tantas perdas? Como ser a novata que vai entrar no grupo que já convive junto desde 26 de janeiro? Será acolhida pelos coleguinhas? Essa defasagem é justa, ou pelo menos justificável? Não creio.

Vejo a tristeza nos olhos do meu marido... vi o quanto esse final de semana de chuvas permitiu que ele fizesse exatamente aquilo que mais ama na vida: ficar grudado na filha o máximo de tempo possível, ainda que isso signifique fazer maratonas de filmes infantis, ou passar duas horas com toda a paciência do mundo, para que ela conseguisse juntar as sílabas e ler um único parágrafo do livro. E rir juntos, a cada vez que ela dizia medival ou mediOval, ao invés de "medieval". 

É tão meigo o afeto recíproco entre eles... um grude mesmo, sério, não se largam... mas também, quem não amaria um pai que corre pelo shopping, que põe no colo quando ela reclama que está cansada, que senta no chão ao lado da cama, até que ela durma, que faz palhaçadas sem se importar com quem está a redor, compra filmes e livros e assiste ou lê com ela, que pede ajuda para preparar a refeição, ainda que isso implique no dobro do tempo gasto, e no triplo da bagunça? Ah, e não menos importante: não só diz, mas prova o tamanho do amor que sente!

Daí porque o termo "cruel" define com perfeição essa decisão multiavalizada, endossada, permitida, incentivada, e todos os demais sinônimos para tal absurdo. No fundo, rezo para ser capaz de sustentar a queda desse pai, e todas as consequências; e ainda, para que essa criança não sofra mais do que já sofreu até hoje. 

Está na hora de superar essa falida e arcaica ideia de que pai não pode criar filho(a). 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Fui criada para ser marido!


Ontem, antes de dormir, marido e eu conversávamos sobre nossas criações; provavelmente, o único ponto em comum seja o fato de termos sido "treinados" para ser irmãos mais velhos

Boa parte da minha vida, não consegui aceitar muito bem o fato de ter que servir como "exemplo", de ser medida e julgada por ter nascido antes dos meus irmãos, com o agravante de ter sido educada por uma mãe machista. Sim, mamãe é do tipo que diz que mulher tem que lavar a louça, e homem tem que lavar o carro.

O fato é que nada, nada mesmo acontece por acaso... e ter tido um pai que insistiu em fazer de mim um "filho", facilitou um bocado a vida nos anos seguintes, e facilita até hoje. Convenhamos que não é muito comum um pai ir consertar a torneira da pia da cozinha, e chamar a filha; ele chama o filho, ora bolas! Lá em casa não foi bem assim, e o resultado foi uma independência bem fora do comum.

Mas o que é mais estranho nisso tudo é que, mesmo tendo sido criada por uma mãe machista, ela mesma jamais me disse que eu cresceria para ser pau-mandado, ou para esquentar o umbigo no fogão e esfriar no tanque. Pelo contrário, fui incentivada a ser independente... até hoje, ela diz que o melhor marido é um bom emprego. 

Lembro bem o fato de que muito do que eu sei hoje, em termos de atividades domésticas, aprendi simplesmente observando; ah, sim, eu sei costurar e arranho um ou outro ponto de crochê, provavelmente ainda consiga decorar um bolo, mas isso foi obra da minha avó Francisca... mamãe até faz, mas como eu disse antes, não julgou pertinente me ensinar tudo isso. Se você me perguntar qual corte de carne é melhor para isso ou aquilo, talvez eu saiba de um ou dois; mas me pergunte sobre trocar lâmpadas, resistências, instalar equipamentos, identificar um barulho estranho no carro... rsrs.

Daí - retomando o início do post - marido e eu chegamos à conclusão de que, em essência, eu fui treinada para ser marido, e não esposa, rsrsrs, na visão mais tradicionalista e patriarcal possível. Decorreu então uma conclusão minha: sou especial, justamente por ser tão diferente... e num mundo tão cheio de gente mais do mesmo, ser autêntica incomoda [os outros]. E se causa incômodo, vira alvo de combate. Só que - sinto muito - eu cheguei para ficar. 

Veni
Vidi
Vici

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Uma vida sem roteiro e cheia de significado

Há quase três anos, eu fui meio que trancafiada numa máquina de lavar... primeiro, um banho de água fria, seguido de sabão, e uma série de chacoalhões lavaram a alma de alguém bem acostumada às decepções, e descrente de que, um dia, a vida daria certo de verdade. 

Só que, se tem uma coisa que ninguém pode ignorar, é que no fundo do poço há uma saída de emergência; cabe a você decidir entre ficar lá no escuro, chorando, ou encarar os fatos e partir para a luta. Confesso que chorei por algum tempo, provavelmente só o suficiente para clarear as ideias.

Foi nesse intervalo de tempo que o João [re]apareceu na minha vida, e trouxe uma mochila carregada de calmaria, compreensão, carinho, e outra nem tão boa assim; coube a mim, com a ajuda da terapia, incentiva a abrir essa bagagem e classificar muita coisa... como a gente faz quando vai arrumar um armário: tira tudo de dentro, separa o que vai para o lixo, ou para doação, para só então guardar de volta o que vai permanecer, e deixa tudo organizadinho.

Claro que esse processo foi demorado, causou muito incômodo, afinal, mexer com o que estava quieto, mudar o status das coisas, tirou os envolvidos da zona de conforto, obrigando-os a rever conceitos, readaptar-se. Numa palavra: caos.

Só que a vida é mágica, meus caros. Ao passo que promovi tantas modificações, eu fui substancialmente transformada; eu me permiti ressignificar conceitos, valores, decisões, atitudes, e com isso [prefiro crer que] todos nós ganhamos. Quer dizer, muitos de nós, porque alguns personagens parecem ter optado por se manter engessados num passado morto e enterrado. Cremado, eu ousaria dizer.

E dentre as coisas para as quais não têm volta, não importa o quanto haja choro ou ranger de dentes, há uma decisão conjunta, que transformou a minha vida: abriu-se a janela do tempo, e nos 10 segundos que eu tive para decidir, fechei os olhos e me atirei, com fé e uma certeza que não pode ser traduzida em palavras, somente sentida. 

Devo confessar que, no calor da emoção, a impulsividade calou o medo, mas ele deu um jeitinho de sorrir de canto... afinal, quem nunca ouviu que casar é difícil, a convivência sob o mesmo teto é totalmente diferente, e outros tantos blah blah blahs? O segredo reside em não ignorar essa premissa, e trabalhar atentamente para manter o propósito de felicidade que abraçamos. 

Sejamos honestos: a criação de cada um, os hábitos cultivados por anos a fio, a personalidade, tudo adicionado ao caldeirão do cotidiano de contas a pagar, horários, listas, afazeres domésticos, parece uma mistura fadada ao fracasso.  But it's up to you... e nesse ponto, rendo graças a Deus por ter um companheiro, um parceiro, um cara cheio de defeitos com os quais eu consigo conviver, e que igualmente entende as minhas paranoias por limpeza, organização, e ri da minha pressa de resolver as coisas, dos meus chiliques. 

E mesmo tendo feito tudo na contramão da razão, estou convencida de que, mesmo fora dos padrões, a vida se organizou exatamente do jeito que deve ser, para nós dois. Numa relação que começou a três, mudar primeiro [e durante o mês de dezembro, que é um caos per si], casar no civil e só depois de 10 meses, realizar uma cerimônia, nem parece tão surreal assim né?