domingo, 29 de junho de 2014

O dia em que fomos amputados, ano 2

Não importa quanto tempo passe, ou quantas pessoas entrem e saiam espontânea e descompromissadamente de nossas vidas; não importa o quanto sorrimos, a quantas celebrações comparecemos; não importa quantas estações tenhamos efetivamente...

Há sempre um lugar vazio à mesa, que corresponde a uma cicatriz em nossas almas, e um conjunto de experiências, doces e amargas. Essa ausência [física], com a qual cada um de nós desenvolveu uma intimidade, uma forma de lidar, é mais sentida nesse dia tão emblemático, no qual teve início e fim um ciclo de existência de 365 dias.

O tempo, capturado em fotos, delimitado em vídeos, segue congelado; ela segue sendo aquele bebê que não chegou a andar, não aprendeu a falar completamente, que jamais vai nos deixar em pânico por ameaças de encontro entre dedos e tomadas, ventiladores, objetos cortantes... igualmente, jamais nos permitirá emitir "owwwwn" a cada nova descoberta, a cada progresso, a cada conquista e independência.

Em nós, haverá sempre um berço vazio, um chocalho jogado num canto qualquer da sala, uma mamadeira por lavar sobre a pia. Restará sempre aquela sensação de que ela deveria estar ali para reclamar atenção das vovós, puxar os cabelos da irmã ou disputar o colo da mamãe com o irmão, para ser dama-de-honra das titias...

É como ter um dedo amputado: você aprende a "se virar" sem ele ali, mas a cada vez que olha, a ausência se destaca. É perfeitamente normal e aceitável que você, ao olhar esse "buraco", devaneie sobre como seria a vida se ele ainda estivesse ali... você fica triste, chora, mas a vida logo empurra para frente e você segue, amputado.

...e hoje, quando deveríamos celebrar seus 3 anos, somos chacoalhados pela dura realidade da sua partida, há 2. (se você pudesse, diria a essa sua tia aqui se, aí onde você está, agora, o 'regresso' à morada eterna é celebrado na data em que ocorre?)

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Muito mais que "dia dos namorados"

Imagem daqui
Porque quando a vida nos fechou certas portas, abriu uma janela de frente para a outra, e a gente se [re]encontrou.

Porque não há contas a pagar, falta de grana, problemas no trabalho, com o(s) carro(s), com a(s) família(s), com terceiros, trânsito, resistência de chuveiro queimada, nada é tão forte que possa abalar essa estrutura que construímos.

Porque não há um só dia que amanheça, em que eu não almeje acordar ao seu lado.

Porque quando somos dois, somos namorados; quando somos três, somos uma família.

Feliz Dia dos Namorados! <3 p="">

sábado, 7 de junho de 2014

Trinta e três

"Ela tem muita dúvida como todos têm. 
Mas nem todos sabem a beleza de saber lidar com a tristeza. 
Ela sabe. 
Ela ouve a música que seu coração pede e modela seu ritmo ao seu estado de espírito. 
Ela dança a coreografia de seus sentimentos, e todos podem ver. 
(…) 
Ela é mais que um sorriso tímido de canto de boca, dos que você sabe que ela soube o que você quis dizer. 
Ela fala com o coração e sabe que o amor, não é qualquer um que consegue ter. 
Ela é a sensibilidade de alguém que não entende o que veio fazer nessa vida, mas vive."

(Caio Fernando Abreu)

Trinta e três anos, caindo, algumas vezes chorando ali, ainda ao chão; outras tantas, engolindo a dor, batendo a poeira, levantando como se nada tivesse acontecido. Nem todos sabem quantas cicatrizes carrega, pois poucas são as visíveis. Acalenta tristezas como quem nina uma criança, alimenta esperanças como quem rega uma planta no primeiro raio de sol, reza para ser ouvida e atendida por uma força desconhecida; sorri, porque acredita que a vida vai mudar logo ali, quando virar a esquina.

Parabéns, você. Eu. Feliz aniversário!

terça-feira, 3 de junho de 2014

"Pessoas que são donas da verdade e irredutíveis em suas opiniões"

Ontem, voltando para casa após um encontro adorável com uma querida, que eu conhecia há, sei lá, 8 ou 10 anos, somente pela internet, ouvi a coluna da Inês de Castro na Bandnews FM.

A coluna se chama "Dentro do Espelho", que vai ao ar de segunda a sexta, às 11h17, 20h25 e 4h57. Caso prefira acompanhar, ou ouvir o áudio do que vou transcrever a seguir, basta acessar http://bandnewsfm.band.uol.com.br/colunista.aspx?cod=37

Pois bem, na coluna do dia 02/06/2014, ela falou de um tipo bem comum de gente, ou melhor, de comportamento humano. Transcrevo:

"Tem gente que não discute, não ouve, não avalia opiniões alheias. É gente que sabe, e porque sabe não precisa que ninguém lhe diga nada, as opiniões estão todas prontas, fechadas, concluídas. Dá um pouco de medo dessa gente que sobe no seu 'palco imaginário', esses 'discursivos' de plantão, que a bem da verdade são um pouco burros também. As boas construções de ideias,  de possibilidades, de soluções são feitas à custa de muito ouvido, também de palavras ditas, mas de muitas mais escutadas. Quem ouve os outros, e dos outros, tem muito mais chances de elaborar pra si mesmo, refletir o que pensava, o que passou a pensar, e o que talvez, no futuro, vá pensar. É predicado dos mais inteligentes, também, o 'saber mudar de ideia'; não sempre, nem à toa, mas quando provocado por alguém que lhe traga uma possibilidade melhor que aquela que se acreditava antes.

Dia desses eu fui a uma palestra, e a senhora palestrante em questão começava todas as suas frases dizendo '-olha, é assim'; e à todo 'é assim', eu percebia a plateia se revirando, incomodada, porque as sentenças e ideias vinham todas prontas e concluídas, e não permitiam a participação de mais ninguém. Então o espaço foi se esvaziando, se esvaziando, ficaram uns dois ou três gatos pingados, talvez os mais curiosos em saber até onde ia a palestrante com o seu 'discurso hermético'. Sem graça, ela acabou botando um ponto final e foi embora, sozinha. Aliás, como ficam todos aqueles que falam muito, mas não sabem ouvir." 

Não é segredo para quem me conhece pessoalmente, ou para quem lê o blog, que eu já construí e reconstruí inúmeras vezes os meus pontos-de-vista; especialmente no que tange aos comportamentos de vida, a exemplo do fato de haver abandonado hábitos alimentares ruins. Há, sim, bandeiras que eu sustento e defendo, até que me apresentem ideias capazes de promover mudanças. 

Se não fosse para ouvir mais do que falar, por que raios teríamos dois ouvidos, e somente uma boca? E o cérebro está aí não só para preencher o espaço vazio da cabeça, mas para ser utilizado.