sexta-feira, 21 de março de 2014

Pensando bem...

"Ando tão perdido em meus pensamentos
Longe já se vão os meus dias de paz"*

Uma mente monotemática, não descansa, não dá sossego... análises, conjecturas, hipóteses, e o corpo não se move. Tenho me sentido como o homem do filme "O escafandro e a borboleta", que sofre da síndrome de "locked-in" [Síndrome do encarceramento é uma rara condição, onde os movimentos do corpo inteiro são paralisados com exceção dos olhos, mas as faculdades mentais se mantêm perfeitas. Fonte: Wikipédia].

Juro que procuro alternativas, focar noutras coisas, mas a qualquer hora do dia [ou da noite] o assunto povoa os pensamentos, e quando não há mais como reter, o jeito é abrir as comportas e inundar os ouvidos alheios. Provavelmente estou me tornando [ainda mais] chata, repetitiva, previsível. 

Se aquela história toda que o filme/livro "O Segredo" for real, factível, então deve significar que estou mais próxima daquilo que almejo. Às vezes, as visualizações são tão reais que chegam a causar comoção. Em mim, óbvio. O curioso é que eu sempre achei que daria conta de um roteiro num piscar de olhos, porém descobri que não... sei lá, talvez eu seja só aquele cachorro correndo atrás do carro, latindo... e se o carro parar, o que eu vou fazer mesmo hein??? rsrsrs

E quando for de verdade? E se não acontecer?

João, meu amor: "Eu não te dou sossego, e eu não me deixo em paz"**. rsrsrs

*Acelerou, Djavan.
**Confesso, Ana Carolina.

terça-feira, 18 de março de 2014

Jogando frescobol... rsrs

O texto a seguir, de Rubem Alves, retrata com maestria a realidade dos relacionamentos. Estúpida da criatura que julga as famosas "DR"s como algo ruim... ruim mesmo, nocivo, maléfico e cancerígeno é varrer para debaixo do tapete aquilo que precisa ser externado. 

Só que conversar, quando se trata de relacionamento, pressupõe a existência de maturidade, que por sua vez demanda desenvolvimento mental compatível. Daí porque, via de regra, perduram as relações cujos personagens compreendem a importância vital de falar e ouvir. E isso, vejam só (!), alimenta o amor. 

E você, prefere um relacionamento do tipo "tênis" ou "frescobol"?


Depois de muito meditar sobre o assunto
concluí que os casamentos são de dois tipos: há os casamentos do tipo tênis e
há os casamentos do tipo frescobol. Os casamentos do tipo tênis são uma fonte
de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo
frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de ter vida longa.

Explico-me. Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo
inteiramente. Dizia ele: “Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um
deveria se fazer a seguinte pergunta ‘Você crê que você seria capaz de
conversar com prazer com esta pessoa, até a sua velhice?’ Tudo o mais no
casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas
construídas sobre a arte de conversar.”


Xerazade sabia disso. Sabia que os casamentos
baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em
separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte,
como no filme O Império dos Sentidos. Por isso, quando o sexo já estava morto na cama, 

e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: 
começava uma longa conversa, conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. 
O sultão se calava e escutava as suas palavras como se fossem música. A música dos sons ou
da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita
sempre, depois de morrer. Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os
carinhos que se fazem com as palavras.
E contrariamente ao que pensam os
amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o
tempo todo: “Eu te amo, eu te amo...” Barthes advertia: “Passada a primeira
confissão, ‘eu te amo’ não quer dizer mais nada”. É na conversa que o nosso
verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez
poética
. Recordo a sabedoria de Adélia Prado: “Erótica é a alma”.

O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua
derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se
tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do
ponto fraco do seu adversário - e é justamente para aí que ele vai dirigir a
sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é
o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto,
justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário
foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de
outro.

O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e
uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se
a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior
esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro
possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado.
Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro
erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é
como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido,
pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ire vir... E o que errou pede
desculpas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância:
começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...

A bola: são as nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de
palavras. Conversar é ficar batendo sonho pra lá, sonho pra cá...

Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficam à
espera do momento certo para a cortada. Camus anotava no seu diário pequenos
fragmentos para os livros que pretendia escrever. Um deles, que se encontra nos
Primeiros Cadernos, é sobre este jogo
de tênis: “Cena: o marido, a mulher, a galeria. O primeiro tem valor e gosta de
brilhar. A segunda guarda silêncio, mas, com pequenas frases secas, destrói
todos os propósitos do caro esposo. Desta forma marca constantemente a sua
superioridade. O outro domina-se, mas sofre uma humilhação e é assim que nasce o
ódio. Exemplo: com um sorriso: ‘Não se faça mais estúpido do que é, meu amigo’.
A galeria torce e sorri pouco à vontade. Ele cora, aproxima-se dela, beija-lhe
a mão suspirando: ‘Tens razão, minha querida.’ A situação está salva e o ódio
vai aumentando.”

Tênis é assim: recebe-se o sonho do outro para destruí-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabão... 

O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre
perde.

Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser
preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração
. O bom
ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do
outro voem livres. Bola vai, bola vem - cresce o amor... Ninguém ganha para que
os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para
que o jogo nunca tenha fim...


(Correio Popular, 1991 ou 1992)

sexta-feira, 7 de março de 2014

Desagravo

Há pessoas na vida da gente que, honestamente, servem mais para atrapalhar, do que para fazer despertar aquele sentimento que nos impulsiona a evoluir espiritualmente. É o tipo de pessoa que, muito longe de nos cativar, alimenta nossos instintos mais primitivos, alguns dos quais estão capitulados no Código Penal pátrio.
Pois bem, eu não tenho receio de admitir que sou egoísta: o que é meu, é meu. Isso no aspecto material, ok? Pessoas não são propriedades, ainda que eu defenda as que me são caras, com unhas e dentes.

Retomando o raciocínio: eu trabalho desde os 18, 19 anos. Com a contrapartida [financeira] do meu esforço, adquiro bens materiais, dos quais usufruo como me convier fazê-lo. Daí porque julgo absurdo, quase um crime mesmo, a criatura fazer uso (sem qualquer permissão), daquilo que me pertence.

A brilhante solução que as pessoas me apresentaram, a de trancar o quarto, além de representar o total fracasso da pedagogia para o caso, revelou outra tendência de nuances igualmente vis: a "caça" à cópia da chave, que a empregada cuidou de "mudar de esconderijo" justamente pela reiterada prática de "caça".

Bom, eu vejo programas de investigação criminal, e estou começando a perceber que os comportamentos dos psicopatas, maníacos, vai se revelando durante o curso da vida, até o dia do primeiro crime. Ninguém se torna assim da noite para o dia, isso é uma construção, e quem está próximo vai se omitindo, julgando isso ou aquilo como "excentricidade", dizendo "-não se incomode, ele(a) é assim mesmo.

O Senador e Professor de Direito Constitucional, Pedro Taques, ex-Procurador da República, disse que "não é a ocasião que faz o ladrão, a ocasião apenas desperta o ladrão que há em você". Eu concordo, porque há muita gente honesta que tem livre acesso aos bens alheios, e jamais se deixou seduzir, segue firme em seus princípios, respeita seus valores.

O post de hoje é um desabafo, um desagravo, e um alerta aos pais: criem seus filhos para que compreendam que o próprio direito finda onde o do outro tem início. O que nos torna diferente dos animais, segundo consta, é a capacidade de raciocínio. Já os animais, tidos como irracionais, dão lições sobre convivência e respeito ao espaço do outro.

Bad girls vão aonde quiserem

Perdoem-me os supra educados, os polidos, os religiosos, mas eu não sou muito de convenções sociais; quando criança, é comum que os adultos nos forcem a "falar com fulano", e a gente acha um saco. [obrigada, memória querida, pelos episódios bem guardados, vívidos, nesse quesito]

Óbvio que, profissionalmente, a gente engole um sapo, um dinossauro, uma jubarte... mas sempre arruma um jeitinho de regurgitar, posteriormente: esportes, saídas, gritos abafados no travesseiro, vale [quase] tudo. 

Ocorre que é muito comum ser "apanhado de surpresa", numa saia-justa perfeitamente evitável, mas que na prática é intencional. Sinto muito a falta de modéstia, mas sou perspicaz e bastante sagaz no quesito "leitura de cenário" e identificação de situações... percebo as nuances, mesmo quando os personagens se esforçam para fazer parecer casuística. 

Pois bem, eu sou indelicada, admito. Calculo consequências na velocidade da luz, mas não é bom confiar, pois os instintos aqui são aguçados e reativos: nem sempre vou conseguir evitar uma "gentileza". Não sou do tipo que sorri amarelo e pronto. Pelo contrário! Então, quando você pensar que pode agir assim ou assado, e receber uma resposta, digamos, pouco polida, agradeça aos céus... você acabou de escapar de um tapa na cara, para ficar no básico. 

Então, para o bem da sociedade, e dos demais envolvidos, evite situações, não se ponha em rota de colisão comigo. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, e eu não vou deixar passar a oportunidade de dizer a que vim. É que quando eu sou boa, eu sou boa, mas quando eu sou má, sou melhor ainda. Pergunte a quem conhece.