terça-feira, 2 de setembro de 2014

Divagando em contos - XI

"Era para ser. Estava escrito. Ela havia entendido tudo, perfeitamente: o universo conspira para que as pedrinhas se [re]encontrem. Mas as linhas miúdas no rodapé desse 'contrato', não lidas, davam conta de que haveria muito sangue, suor e lágrimas, sem garantia de sucesso na empreitada.

Seu coração - esse trem desgovernado, cuja alavanca nem sempre funciona no primeiro acionamento - promovia interpretações aos borbotões, construindo e derrubando o castelinho de cartas, enfileirando pacientemente os dominós, que sucumbiam em sequência ao menor dos movimentos. 

Ilusão. Distinguir entre desespero de causa e 'cavalo selado' não é tarefa fácil, mas às vezes, a decisão passa ao largo de sua vontade. Mais uma vez, ela viu-se inundada de um velho sentimento, sentiu seu gosto amargar outra vez na boca. Sim, a memória é um álbum de recortes que não amarelam, não empoeiram, mesmo quando relegado a um canto qualquer de uma estante. 

A dor de querer e não obter, ela conhece bem, e não é de hoje; os discursos que soam como música tocada para fazer levitar, também não. Curioso, e não menos revoltante, era que ela insistia em desligar os alarmes que alertam para acontecimentos daquele tipo... quase como se tivesse sido treinada para sofrer. Sina.

Ela volta aos arquivos, à procura do contrato; relê todas as cláusulas, as entrelinhas, conjectura meios para aditar ou distratar. Mas as regras do jogo são imutáveis, baby. Aceite, assim dói menos. 

Daí o tom ameaçador do discurso converteu-se: passou de 'em breve' para 'um dia, talvez, quem sabe'. No fundo, algo dentro dela sussurra: 'nunca'. Entretanto, as experiências mostram que é preciso ser revirada do avesso, visto que, muitas vezes, é assim que se descobre que o avesso é o lado certo. 

Apatia. Ela chora, porque sabe que nem toda batalha merece que se desembainhe a espada; algumas estão fadadas ao fracasso, daí porque não se deve expor aos riscos desnecessariamente. E de joelhos, ela clama por uma solução. 

Põe-se em pé, de salto 15, e prossegue a caminhada, porque sabe que as soluções não tocam a campainha, tampouco ligam no celular."

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