segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

"Não me falta casa, só falta ela ser um lar"

Há algo mais corriqueiro, mais "feijão-com-arroz", do que dizer "lá em casa"? Pois é, desde que passamos a nos entender como gente, nada mais simplório do que se referir à casa da família dessa forma.

Entretanto, usar essa expressão para se referir ao lar objeto de sua livre escolha, fruto do seu esforço, seja a qualquer título (união estável, casamento, ou mesmo as maravilhas de morar sozinho), ganha ares diferenciados. 

Sim, é verdade, é libertador saber que se eu deixar o copo sujo na pia, ele ai ficar lá até que eu resolva lavá-lo. Ou se eu deixar o shampoo mais top-top na prateleira do banheiro, ele estará a salvo do uso indiscriminado por terceiros. 

[aqui, cabe um esclarecimento: João tem o próprio shampoo, nunca usou qualquer dos meus. Alícia idem.]

As pessoas mais próximas sabem o quanto sofri, ao longo desses 33 anos, com a invasão do meu espaço, com a bagunça alheia, enfim, com [quase] tudo que decorre da convivência. Há algum tempo, a despeito de custear despesas decorrentes da coabitação, vez por outra eu era obrigada a ouvir um sonoro "a casa é minha", ainda que, no instante seguinte, ao sabor da necessidade, a mesma boca dissesse "mas a casa é nossa". 

O fato é que ser filho ou irmão tem prazo de validade, em termos de dividir o mesmo espaço. Obviamente, não estou a dizer que João e eu somos absolutamente iguais, porque seria uma inverdade: eu sou obcecada por limpeza, amo organização, e ultimamente pouca coisa me faz mais feliz do que sentir o cheiro da roupa limpinha, que eu mesma lavei. Já o João é todo caprichoso com as nossas refeições, e ainda lava a louça, mas não é lá uma referência em termos de organização. 

Assim como ele não consegue entender as razões pelas quais eu me armei de balde, vassoura, rodo e produtos de limpeza, e fui lavar o apartamento inteirinho, sozinha, eu não consigo entender como ele junta tanto papel dobrado na mochila, no carro, e em qualquer lugar. Mas mesmo assim, a gente se respeita e se aceita, com defeitos e tudo mais. 

E graças à generosidade de pessoas queridas, a partir de hoje, 22 de dezembro de 2014, o termo lá em casa vai se referir a outro CEP, meu e do João. 

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