quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Pânico de entrevista, rs

Tenho deixado cair a noite, cortinas abertas para a madrugada, para escrever os post aqui no blog. Não sei explicar, mas é nessa hora que o meu cérebro raciocina claramente, sem tantas interferências. É como um ritual: banho, pijamas, notebook e um livro (que no momento é "Comer, Rezar e Amar"). Depois disso, entrego-me aos braços de Morfeu, para o sono reparador.

Acordo, não importa a hora que tenha ido dormir na noite anterior, sempre às 9h. Reluto em levantar, mas hoje um propósito novo me acordou aos pulos: o telefone tocando, a jornalista do outro lado da linha. 

Pausa para explicações: meu tio me pediu que fizesse uma denúncia à Procuradoria que cuida da defesa da saúde em Fortaleza, pois há um mês não consegue a medicação que meu avô precisa tomar, por causa do Parkinson. Desdobram-se aí duas situações: uma relativa à Universidade Federal do Ceará, cuja farmácia deveria fornecer um certo remédio, e por causa da licença do médico (3 meses), não está sendo fornecida. A outra, relativa à Prefeitura, que deveria fornecer o segundo medicamento, que está sempre em falta, ou chega em quantidades irrisórias. 

Imbuída do espírito que move (ou deveria mover) a humanidade, pensei que não éramos só nós os prejudicados. Certamente, há muitas famílias deixando de comer para comprar a medicação, ou pior, muitos portadores da doença sem remédio. Enviei e-mail à referida Procuradoria, e fui além: procurei a imprensa, através do site da TV Verdes Mares (afiliada da Globo). 

Daí, ontem à noite, a minha caixa de entrada me surpreendeu: e-mail da Procuradoria, pedindo a relação de medicamentos que não estão sendo fornecidos. Tipo assim, mandei o e-mail na segunda à noite, na terça eu já tinha uma resposta (parcial, é verdade). Hoje de manhã, liga a repórter.

Ok, eu sei que lá no fundo eu considerava a possibilidade de ter que dar entrevista. Mas daí a se tornar realidade... tem alguma coisa aqui dentro de mim se contorcendo de vergonha, de pavor em relação à possibilidade de encarar uma câmera, expor minha família, meu avô. Pedi à repórter um tempinho para conversar com o meu tio. 

Mamãe chega para o almoço, e eu vou correndo em buscar de auxílio materno, no mais clássico tipo "eu fiz besteira, pode me deixar de castigo se quiser, mas você precisa me ajudar a sair dessa". Quando contei, rindo de nervoso, ela me olhou serenamente e disse: - Filha, que oportunidade maravilhosa! Você, como advogada, vai defender um direito básico do cidadão, que é o acesso à saúde. Pense em quantas pessoas você vai ajudar!

Senti a perplexidade que eu devia estar transparecendo naquele exato momento. Honestamente, não esperava esse tipo de reação por parte dela, nem havia remotamente pensado sobre a tal possível entrevista por esse prisma. A intenção inicial era deixar que a imprensa fizesse esse trabalho, enquanto eu ficaria nos bastidores. 

Ainda não sei se a entrevista vai ser de fato feita. Mas o misto de euforia e vergonha já tomaram conta de mim desde que liguei para a repórter, confirmando para hoje, 20h. Que fique claro: a euforia é pela possibilidade de ser a voz de muitas famílias que estão na mesma situação. 

Só para piorar mais um bocadinho, a mamãe finalizou aquele discurso com outra bomba: - Filha, isso pode acabar na pauta do Jornal Hoje, já pensou? Porque há uma possibilidade de estar acontecendo em todo país.

Ok mãe, você me convenceu, vou ali me afogar numa bacia e já volto...

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