terça-feira, 26 de julho de 2011

O medo de deixar o ninho

Dia desses, no trajeto trabalho-casa, ouvia displicentemente um disco de Marisa Monte, quando uma frase de uma canção de Paulinho da Viola, calou fundo: “quando penso no futuro não esqueço o meu passado”.

Pois bem, eu sempre quis casar; sonho de menina. Agora, mais perto que longe, aspectos práticos tomam conta do cotidiano, ocupando o espaço antes destinado tão somente ao romantismo que envolve a “instituição”.

E você poderia estar se perguntando: “que diabos tem a música ‘Dança da Solidão’ a ver com casamento???”. Simples, meu caro leitor. A mulher, via de regra, é criada para ser esposa; suas brincadeiras na infância envolvem bonecas, panelas, vestidos de noiva e, n’alguns casos, ser dama de honra nas cerimônias de parentes e/ou amigas, geralmente da mãe.

O que não é costume entre mães e filhas é discutir questões rotineiras do casamento. O fato é que quem vai casar não se dá conta do imbróglio onde se meteu, até estar de posse da chave de casa e verificar uma despensa vazia, por exemplo. Sim, você, meu caro leitor que ainda é “filho” (leia-se: mora com os pais, ou pelo menos um deles), não precisa se preocupar com as compras de supermercado, ou com as rotinas domésticas; já há quem cuide disso.

Só que, no momento em que se diz “sim”, acabou-se tal mordomia! É, você aí, foi-se o tempo em que a geladeira era abastecida quase como num passe de mágica, e suas roupas, antes destinadas ao cesto, retornavam limpas, cheirosas e bem passadas. Agora, com raras exceções, você se torna responsável por tudo isso. E, o pior, financeiramente responsável.

Acabaram-se as regalias, e se você for mulher, é provável que a decepção seja ainda maior. Sim, porque antes do “sim”, ele ia jantar na casa de sua mãe, e retirava o prato da mesa. Agora, não só chega do trabalho – muitas vezes, ao mesmo tempo em que você – reclamando que não tem comida pronta; compara o cardápio com o da “casa da mamãe”; e acredita honestamente que os pratos e talheres sujos são capazes de volitar, da mesma até a pia.

Em momentos assim, você se pega pensando nas mordomias que tinha na “casa da mamãe”, e ainda se arrepende amargamente de todas as reclamações. É capaz, inclusive, de listar cada uma delas e pedir desculpas, de joelhos, à mãe por toda aquela ingratidão.

Pois sim, você ainda está se perguntando por que raios aquela frase acima mencionada deu origem ao presente texto? Eu respondo: porque enquanto procuro uma casa para chamar de minha, desfruto das regalias das quais me privarei, muito em breve, conscientemente.

E sim, mesmo depois de todo esse “discurso”, eu ainda quero – e vou – me casar.

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