sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Na fila da clínica, uma experiência nauseante sobre a futilidade humana

Sinceramente, custo a compreender as razões que levam os estabelecimentos a agendar horários e, ou não cumpri-los [a grande maioria ignora], ou não possuem condições para tanto. Explico: agendei, numa clínica de imagens de renome, o exame requerido pelo neurologista, para as 7h de hoje, dia 22/11. Em lá chegando, por volta das 6:50, fui surpreendida com uma fila. 

Isso mesmo, fila; o local estava de portas fechadas, e as pessoas - em sua maioria, com idade superior a 40 anos, dentre as quais muitas senhoras com graves dificuldades de locomoção - aguardavam em pé, sem qualquer estrutura que lhes permitisse fazê-lo com o mínimo de conforto.

Bom, se o primeiro horário do local é 7h, humildemente entendo que, se a ordem é abrir as portas somente nesse horário, que ao menos tivessem pensado nas vovós e vovôs que, via de regra - amam cumprir horários, e para tanto, antecipam-se ao evento de modo a não perder o agendamento.

Outro ponto que me causou estranheza foi o falatório sobre prioridades; ué, se o atendimento é condicionado ao prévio agendamento para horário "x", há que se falar em "prioridades"? Juro que não entendi até agora.

Ah, sim, mas a questão que originou a ideia para o post era outra. Enquanto estava lá, em pé, dois homens chegaram conduzindo uma senhora; um deles permaneceu na fila, logo atrás de mim, ao passo que o outro insistiu para que a mãe [esqueci-me de mencionar: eram irmãos, ambos filhos dela] o acompanhasse para aguardar a abertura dos portões noutro canto. Não averiguei, mas a impressão foi a de que a vovozinha findou por se ajeitar n'algum canteiro, ou algo que o valha.

A figura insistente, à primeira vista, quase me levou ao riso: uma combinação de bermuda cargo, tênis de corrida com aquela meia longa e infame, blusa preta de mangas longas, dessas que os ciclistas utilizam, um par de Ray-Ban, cabelos gritantemente pintados e [provavelmente] arrumados com spray. Numa palavra: ridículo. 

Sujeito falante, exibicionista, retornou [por infortúnio] e se postou ao meu lado, e em questão de segundos, já havia engatado uma conversa estranha com algumas senhorinhas na fila, a propósito de um comentário de uma delas, que disse ao irmão [caladinho na fila] que o dito tinha uma semelhança com Agnaldo Rayol, para protestos da figura, que alegou a preferência sexual do cantor para recusar a mencionada semelhança. 

Em seguida, indagou quantos anos a dita senhora julgava ele ter; quando ouviu "cinquenta e cinco", estufou o peito e replicou, dizendo "sessenta e sete"; nesse instante, outra mulher acusou a tintura no cabelo, e ouviu como resposta "- não sou eu que pinto, pintam, porque eu não sei fazer isso". E já saiu se defendendo, alegando que com todos os artifícios [ah, eu disse que ele afirmou ter feito lifting facial?], ele "conseguia" namorar "moças bonitas", e que as mulheres de cinquenta eram portadoras de transtornos, muitos dos quais, mentais, para protesto imediato da "fiscal da tinta".

Era eu a única que, provavelmente, poderia ser "enquadrada" no "perfil" do caricato cidadão, visto que as demais, como dito, tinham idades que variavam entre a da minha mãe, de algumas tias, e da minha avó. Pobre diabo, ainda bradava que "as moças não criam problemas, acham tudo ótimo, só querem viajar, curtir e gastar, e que o homem era o dinheiro que possuía: se fosse feio, mas tivesse 'grana', vivia ladeado por 'beldades'."

Pausa para uma reflexão: só eu acho patético um ser humano que pensa e age dessa forma? Sinto náuseas ao me deparar com tipos assim, que se enganam com artifícios que o dinheiro paga, para se exibirem feito pavões por aí. Que coisa vazia, desprovida de propósitos! O que [deveria] motiva[r] uma relação é o amor, o carinho, a cumplicidade, o desejo, e uma série de outras coisas, e não o binômio grana+farsa. 

Por Deus que, quando o nojo beirava a necessidade de regurgitar o café da manhã, as portas se abriram e eu me livrei daquela ladainha maçante. E da fila.


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