Há 28 dias e 5 sextas-feiras, as lembranças se avivam e a dor lancinante nos acompanha, do raiar do sol ao cair do dia, noite adentro.
Dói ainda mais quando se lê o lamento silencioso da mãe que perdeu a cria, prestes a parir outra. É um uivo solitário, quase uma sinfonia de dor.
Até quando as sextas serão cheias de pesar e tristeza, lágrimas, por essa ausência ainda tão presente. Por que essa falta tem peso, tamanho e cheiro?
Se eu, que fui a pior tia que ela teve com certeza, sinto a textura das bochechas, do cabelinho, ouço os murmúrios, o balbuciar das únicas palavras que teremos ouvido a vida inteira... imagine quem lutou pela manutenção daquela vida desde a notícia da gravidez, até a notícia da morte?
Toda sexta, a essa hora (por volta das 16h, 17h), as sombras daquela tarde retornam e a sensação é de que o telefone vai tocar novamente, e vou ouvir aquela notícia, e refazer aqueles passos na direção do corpo sem vida. Se eu fechar os olhos, sinto o cheiro do produto utilizado na assepsia do corpo.
Ainda ontem senti esse cheiro, enquanto estava na casa da avó materna, discutindo detalhes do chá-de fraldas do nosso principezinho JP. Foi como se eu tivesse sido abraçada por um dementador*, para usar uma simbologia da saga Harry Potter.
Ah, Deus, o que eu não daria para tê-la novamente entre nós, com aqueles olhinhos de coruja, aquele jeitinho meigo de demonstrar ansiedade, ou de dar tchauzinho.
(lágrimas de saudades, minha pequena)
* Segundo o site ASM Wiki: O dementador é uma das criaturas mais sombrias que existem. Elas são
cobertas por uma espécie de manto negro que cobre sua pele podre e
pegajosa, que brilha levemente. Ele se alimenta de lembranças humanas,
sugando-lhes todas as memórias felizes.
Nenhuma pessoa em sã consciência conhece o rosto de um
dementador, uma vez que ele apenas é revelado para sugar a alma de um
ser humano pela boca, ato macabro conhecido como o “beijo do
dementador”. Após o ocorrido, esta pessoa que teve a alma sugada passa a
ter uma semi-vida, onde apenas seu corpo se mantém vivo e a pessoa
passa a viver sem memória, como uma concha vazia.
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