Há pouco, li o post do amigo Fernando, sobre o passamento de uma amiga que lhe é(foi) cara: Cláudia Viot. Não a conheci, mas pelos relatos, sinto que fui privada da oportunidade de estar com um ser humano diferenciado, daqueles que se faz questão de adjetivar como amigo.
Ontem, enquanto observava a exposição "O Fantástico Corpo Humano", um detalhe me chamou a atenção: ali, aqueles corpos são chamados de exemplares. Nada contra, nada a favor. Só não consigo me conformar com essas classificações, só isso.
N'alguns, é possível identificar traços. Ainda que tenham passado por tratamentos inúmeros, e se mantenham conservados em razão dos polímeros, nada me tira da cabeça o simples fato de que foram pessoas como eu, como você. Sorriram, choraram, e certamente fazem falta a alguém. Muito mais que uma certidão de nascimento, outra de óbito, e entre estas uma autorização para que o procedimento se realizasse quando a vida lhes faltasse. Muito mais que a admiração do "fantástico corpo humano", percorri os boxes me perguntando qual a história de cada um daqueles que estavam ali, inteiros, fatiados, seccionados...
Eu não consigo essa indiferença, típica de quem lida com certas situações. Creio que não mencionei - ao menos, não no blog - o meu repúdio à forma como nos tratam quem lida com a morte. Até o falecimento de uma irmã do meu pai, eu jamais havia tratado de aspectos práticos relativos ao falecimento de alguém. Mas ao entregar à florista o dinheiro que o meu avô, pai dessa tia, com muita dor e pesar me deu, pedindo que encomendasse uma coroa de flores bem bonita, em nome da família, e ouvir dela "- recibo em nome de quem?", fiquei perplexa. Agradeci, internamente, por ter sido eu a ouvir aquilo; não quero pensar como seria se o meu avô tivesse sido questionado sobre um maldito recibo.
Ao assinar o cheque das despesas com o funeral e a posterior cremação, a burocracia personificada num cidadão de ar blasé, levou-me às lágrimas, até então contidas em função, justamente, do quadro tênue: meus avós, enterrando uma filha; providências (financeiras, principalmente) absolutamente urgentes e necessárias.
Sinto muito, mas ali era uma tia, não somente um corpo, um cadáver, um defunto. Era filha, sobrinha, mãe, tia, era importante para a nossa família; era aquela pessoa que costumava chegar cedo aos sábados, e bagunçar a ordem das coisas, tudo para fazer um bolo delicioso de fubá, ou café que convidava à cozinha, uma confusão que deixava a gente maluco das ideias. Sim, era rabugenta, faladeira, acidamente honesta em sua forma de pensar, falar e agir.
Mas era nossa tia, e faz uma falta danada!
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