Não consigo tirar da mente o ocorrido no final da tarde de ontem... a fração de segundo em que faltou energia, seguida de um som de pancada e um grito. Bom, é comum que haja batida, sirenes, toda sorte de sons urbanos aqui nos arredores. Primeiro, porque o som se propaga incrivelmente para o lado em que fica a janela da minha sala. Segundo, porque mais adiante fica a sede da Polícia Civil.
Chegamos a pensar ter se tratado de batida com queda de transformador da rede elétrica; mas minutos depois uma pessoa adentra a sala informando o fato: uma moça havia se jogado do nono andar do prédio. Claro que os abutres correram para descer e conferir a cena. Fiquei tão mal que peguei a bolsa e fui embora, não queria participar dos burburinhos, tampouco do caos que tomou conta da área lateral onde o corpo estava.
Hoje, ao chegar, as notícias davam conta de que era uma jovem branca, trajava short jeans e camiseta, e que havia subido ao décimo andar e como não encontrou janela, desceu pelas escadas e se atirou do nono. Detalhe: o escritório fica no décimo. De fato, os demais andares possuem janelas nos corredores, mas aqui sequer há corredor.
Ao contrário da maioria, que gosta de ver o sangue, o meu interesse reside tão somente em saber quem era, e o motivo de tal atitude. Fiquei comovida com o pensamento de como a mãe deve ter recebido a notícia, e que provavelmente não poderá velar o corpo da moça, haja vista o estado em que ficou a cabeça, já que o impacto foi com o rosto virado para o chão [contam os colegas aqui, que presenciaram o trabalho da perícia, que a cena era dantesca, com direito a pedaços da massa encefálica pela calçada].
Mas quem era ela? Seus amigos, familiares, havia um namorado? São perguntas para as quais não consegui resposta. Muito além da curiosidade mórbida, eu queria saber da pessoa, daquele ser humano que, seja por qual motivo, reuniu forças para atravessar a janela e se jogar, deixando bolsa e calçados no hall.
Uma pena...
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